Estratégias para a conservação das espécies de lagartos (squamata) endêmicas do cerrado brasileiro

Abstract

O bioma Cerrado, a maior e mais rica savana na terra, ocupa uma grande área central no Brasil, apresentando também manchas isoladas na Amazônia e Floresta Atlântica. Considerado como um hotspot da biodiversidade, o Cerrado tem sido intensamente transformado pela agricultura, pecuária e outras atividades antropogênicas. Os lagartos são frequentemente considerados organismos modelo para estudos evolutivos e ecológicos. Não obstante, os lagartos estão sujeitos ariscos globais e regionais de extinção, com, aproximadamente, uma espécie ameaçada em cada cinco. Existe uma necessidade crítica para uma avaliação rigorosa de seu status de conservação, que considere características das histórias de vida das espécies, requerimentos diferenciais de área, vulnerabilidade espacial e raridade natural. Ao menos 30 espécies de lagartos ocorrem no Cerrado Brasileiro, a maior parte delas associadas a aspectos específicos do habitat. Neste estudo foram produzidos modelos de distribuição e foram selecionadas áreas adequadas para sua conservação com o uso das ferramentas desenvolvidas para o planejamento sistemático da conservação (PSC). No primeiro capítulo foram formuladas metas percentuais e em área para a conservação das 30 espécies de lagartos endêmicas do Cerrado Brasileiro, considerando a raridade natural, vulnerabilidade e aspectos da história de vida para cada espécie. As comparações entre as distribuições estimadas de cada espécie sobrepostas a áreas já protegidas por unidades de conservação de proteção integral no Cerrado e as áreas correspondentes às metas calculadas, foram usadas para produzir uma análise de lacunas de conservação para essas espécies no Cerrado. A perda de habitats afetou uma fração significativa da distribuição original dos lagartos endêmicos do Cerrado e a rede atual de áreas protegidas é amplamente inadequada para assegurar sua conservação. Noventa e quatro por cento das espécies está inadequadamente protegida e apenas uma espécie (Bachiaoxyrhina) foi considerada suficientemente protegida. Além disso, metade das espécies (15) tem distribuições extremamente reduzidas (>40 000 km2) e estão sujeitas a altos riscos de extinção. No segundo capítulo foram selecionadas áreas importantes para a conservação das 30 espécies de lagartos endêmicas do Cerrado usando ferramentas desenvolvidas para PSC, com indicação das áreas insubstituíveis. Foi calculada a sobreposição das áreas insubstituíveis com propostas de criação de novas unidades de conservação nacionais no Cerrado, conforme informações do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) como informação com potencial para reforçar a sua importância para a conservação. As áreas insubstituíveis sem previsão de proteção futura foram indicadas como regiões importantes para novos inventários da herpetofauna, com potencial para validar os resultados deste estudo.