Perfil químico da ayahuasca e da espécie Banisteriopsis caapi e seu potencial anti-inflamatório em cultura de células BV-2

Abstract

A ayahuasca é uma bebida psicotrópica com grande potencial terapêutico preparada principalmente pela decocção do cipó de Banisteriopsis caapi e das folhas da Psychotria viridis. Este estudo teve como objetivos caracterizar o perfil químico de indivíduos de B. caapi e de amostras de ayahuasca coletadas em diversas regiões do país e avaliar a atividade biológica do extrato de B. caapi e seus componentes em células de micróglia BV-2. No total, 33 amostras de ayahuasca e 176 amostras de cipó da família Malpighiaceae foram coletadas, sendo 159 B. caapi. Os cipós secos foram triturados e extraídos com metanol e a ayahuasca diluída para análise por LC-MS/MS. As concentrações médias das amostras de B. caapi foram de 4,79 mg/g de harmina, 0,451 mg/g de harmalina e 2,18 mg/g de THH, com uma alta variabilidade entre as amostras (DPR de 78,9 a 170%). Amostras nativas de B. caapi tiveram concentração de harmina maior do que as cultivadas e amostras do DF/GO tiveram maior concentração de THH do que as amostras do Acre. Concentrações nas amostras de ayahuasca variaram de 0,109 a 7,11 mg/mL de harmina, 0,012 a 0,945 mg/mL de harmina, 0,09 a 3,05 mg/mL de THH e 0,10 a 3,12 mg/mL de DMT. Foi confirmada a hipótese de que a harmina é reduzida a harmalina e então a THH durante a decocção no preparo da ayahuasca. Uma amostra de B. caapi do tipo ourinho coletada em Goiás foi submetida a cromatografia semipreparativa (HPLC-DAD) para isolamento de potenciais novos compostos. As frações isoladas foram analisadas por LC-MS/MS do tipo TOF de alta resolução para determinação de massa exata: F1 – 174,0918 e 233,1289; F2 – 353,1722; F3 – 304,3001; F4 – 188,1081; F5 – 205,0785. A atividade biológica das frações, do extrato de B. caapi e das ß-carbolinas harmina, harmalina e THH foi avaliada por meio dos testes de viabilidade celular, apoptose/necrose, produção de EROS e produção de citocinas por células microgliais BV-2, cultivadas em DMEM. A maioria dos tratamentos resultou em ação anti inflamatória com redução na produção de citocinas pró-inflamatórias, em especial as frações F4 e F5 e as ß-carbolinas. Os resultados sugerem que compostos presentes no extrato de B. caapi têm potencial para tratar doenças neurodegenerativas, uma vez que o excesso de ativação microglial pró-inflamatória está envolvido na neuropatologia de doenças do SNC.