Muros, cercas e guaritas : enclaves urbanos em São Carlos

Abstract

A urbanização no Brasil se caracterizou por uma ocupação rápida e intensa, acarretando impactos de ordem econômica, ambiental e social. Com o aumento populacional das cidades, os problemas decorrentes e a ausência do Estado frente a essas questões, a população passou a procurar em condomínios horizontais fechados a possibilidade de melhor qualidade de vida e segurança. A proliferação de enclaves urbanos desde a década de 1970 tem sido tema de grande relevância no debate acadêmico. Após quase cinquenta anos do início deste tipo de empreendimento como forma de expansão urbana das cidades brasileiras, é possível e necessário discutir os efeitos sociais desta configuração no espaço construído. Através de uma pesquisa documental dos processos de aprovação, relatórios de impactos de vizinhança de “condomínios horizontais fechados” e à luz de teorias morfológicas urbanas recentes, esta tese reflete sobre a configuração urbana desses elementos e suas implicações sociais. Tem como foco as relações arquitetura versus sociedade. Essas configurações espaciais apresentam efeitos (sociais) que não são levados em consideração na atual forma de aprovação e de implantação de tais elementos, pois há uma crença equivocada de que a arquitetura não define nem impacta o comportamento social. As implicações sociais da configuração dos condomínios fechados devem ser analisadas mediante os sistemas de barreiras (físicas, visuais, sociais e psicológicas) que eles constituem na relação com a cidade, particularmente quanto às grandes parcelas impermeáveis que se implantam. Desta forma, o objetivo da pesquisa foi averiguar o grau de urbanidade em áreas consolidadas por enclaves urbanos, como os condomínios horizontais fechados. Partiu-se da hipótese de que as áreas que apresentavam alta taxa de expansão urbana por meio de condomínios horizontais fechados ou “loteamentos” horizontais fechados possuíam baixa urbanidade, com processos precários de interação, integração social e identidade decorrentes da falta de qualidade urbano-ambiental imposta por tais empreendimentos nas áreas onde se consolidam. Espera-se ampliar o entendimento e discussão sobre as causas e as consequências que esta forma de expansão pode acarretar à configuração urbana, à leitura das cidades e principalmente aos seus aspectos relacionais identitários.