A Vaza Jato e as primeiras fissuras no discurso hegemônico da Lava Jato : a disputa pela construção da narrativa nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

Abstract

Este trabalho se propôs a analisar a representação dada por veículos da mídia tradicional do país – os jornais O Globo e Folha de S.Paulo – ao episódio que se denominou Vaza Jato. Estudamos o noticiário desses jornais ao longo dos 15 primeiros dias após a revelação pelo site The Intercept Brasil, em junho de 2019, das mensagens hackeadas que levantaram suspeitas de conluio e de relações impróprias entre o juiz e os procuradores responsáveis pela Operação Lava Jato. Até então, a Operação, que foi deflagrada em 2014 e prendeu integrantes das elites política e econômica, era a base de um discurso hegemônico que, em nome do combate à corrupção, gerou na sociedade brasileira forte sentimento anti-política, com impacto profundo nos rumos políticos do país. Nessa análise da notícia enquanto discurso e enquanto narrativa, recorremos a duas diferentes fontes teórico-metodológicas: a Análise Crítica da Narrativa e a Análise do Discurso Crítica, que nos permitiram estudar as dias dimensões e se complementaram num mesmo dispositivo analítico. Ao final, identificamos nos dois jornais a construção de uma narrativa comum em torno da sequência de episódios que se seguiram no campo político e jurídico, e em seu desfecho provisório. Pode-se apontar, porém, diferenças na posição dos dois jornais, na forma como representam os protagonistas dessa “estória” – o principal, o ex-juiz e então ministro da Justiça Sergio Moro - e seus opositores. Apesar de a Folha e O Globo terem dado destaques distintos ao discurso contra-hegemônico da Vaza Jato é possível inferir que surgiram ali as primeiras fissuras no discurso dominante.