Apropriação do capital cultural midiático no ingresso de estudantes candidatos e cotistas em cursos de graduação de alta seletividade

Abstract

A aprovação em cursos de alta seletividade social no ensino superior demanda nível de conhecimento para realizar provas de ingresso. O processo de apropriação de conhecimento, no contexto das novas tecnologias da informação, envolve contato com diferentes fontes de informação e tal hibridismo caracteriza os processos de estudos de jovens candidatos e cotistas. Graças às novas tecnologias da informação, fontes legítimas de conhecimento e fontes não legítimas se mesclam e contribuem para potencializar táticas de estudos de jovens das classes populares (SETTON, 2005). Na realidade brasileira, o maior acesso às TIC ainda predomina entre famílias de maior instrução e renda (PDAD, 2018), questionando-se, assim, como se dá a prática de estudos de estudantes da rede pública, candidatos e ingressos em cursos seletivos na universidade, e como se apropriam do capital cultural midiático no processo de ingresso à universidade. Logo, a presente pesquisa tem como objetivo analisar os traços de convergências e dissonâncias entre o perfil das famílias e dos estudantes candidatos às cotas sociais a cursos de alta seletividade social da universidade e, também, dos aprovados, estabelecendo compreensão crítica entre os discursos e a conexão com condições de apropriação do capital cultural midiático nas práticas formais de estudo. Para tanto, a pesquisa se fundamentou nos escritos de Bourdieu (2013, 2007, 2001, 1985) e de Setton (2005), no intuito de explicitar a confluência e novas formas com as quais o conceito de capital cultural se manifesta. O estudo buscou respaldo metodológico na análise de discurso francesa proposta por Pêcheux (1997) e na triangulação de dados abordada por Triviños (1984). Um dos dados que se sobressaiu na análise relaciona-se às divergências entre o perfil dos estudantes cotistas e candidatos de escola pública, em que estudantes cotistas apresentam maior similaridade com o perfil de estudantes aprovados em cursos seletivos na UnB (CESAR, 2017), a maioria são homens que participaram de cursinhos preparatórios e com mães com formação em nível superior. Em relação às práticas de estudos e apropriação do capital cultural midiático, estudantes cotistas recorrem às mídias sociais e ferramentas pedagógicas para ampliar seu conhecimento, por meio de uma rede de apoio colaborativa (familiares, amigos), em contrapartida, jovens candidatos apresentam baixo contato com capital tecnológico (ALVARADO; MARTINELL; MÉNDEZ, 2014) em seu estado objetivado, devido ao fator econômico não favorecer aquisição de meios (acesso à Internet e TIC).