Evolução crustal do limite oriental da Faixa Paraguai : significado tectônico da granitogênese de high Ba-Sr e suas rochas hospedeiras

Abstract

As faixas móveis mais recentes da Plataforma Sul-Americana correspondem a regiões que registram intensa atividade tectônica, formadas durante a Orogenia Brasiliana. A Província Tocantins é considerada um mosaico composto pelas Faixas móveis Paraguai, Araguaia e Brasilia, geradas entre os crátons Amazônico e São Francisco. Esta tese de doutorado busca contribuir na compreensão da evolução geotectônica da região oriental da Faixa Paraguai a partir do estudo de granitóides e rochas metassedimentares encaixantes. A região de estudo é localizada quase nas imediações do contato com o Lineamento Transbrasiliano (LTB), que faz limite com o Arco Magmático Arenópolis, Faixa Brasília. A área de interesse é constituída por sequência supracrustal metamorfisada em fácies xisto verde e por corpos graníticos pouco estudados, tipicamente associados ao magmatismo neoproterozoico da Faixa Paraguai. Parte das rochas estudadas apresentam deformação superimposta transcorrente, relacionada evolução do Sistema Direcional do Lineamento Transbrasiliano. Os granitóides estudados compreendem duas suítes que cristalizaram com aproximadamente 40 Ma de diferença entre si. Ambas as suítes apresentam elevados teores de Ba (~1430 ppm), Sr (~800 ppm), K2O (~4 wt%), LREE e LILE. Os valores negativos de εNd(T) (-6,32 e -6,65), associados a conteúdos elevados de elementos incompatíveis, indicam evolução a partir da fusão parcial do magma derivado do

manto, que foi previamente metassomatizado por fluidos vindos da placa subductante. Foram obtidas idades de cristalização de 557±5,7 Ma e 554±2,9 Ma para a suite mais antiga, que apresenta caráter cálcio-alcalino e alto K. Esta suíte evoluiu de magma apinítico com alto conteúdo de Cr, V e Ni, derivado do manto, para magma contemporâneo granodioritíco a partir de cristalização fracionada acompanhada de pequena contaminação crustal. A suite mais nova, de 515±3,6 Ma, é representada por monzogranitos isotópicos de alto K e concentração elevada de alguns HFSE, mostrando afinidade álcali-cálcica. O modelo petrológico proposto para as duas suítes baseia-se no mecanismo de slab break-off e posterior delaminação litosférica após 40 Ma. O estudo de proveniência sedimentar foi aplicado nas rochas metassedimentares encaixantes dos granitoides. A utilização de zircão detrítico com a aplicação do método U-Pb permitiu estabelecer espectro de idades distribuídas desde o fim do Ediacarano até o Arqueano, sendo ~60% dos grãos analisados são derivados de fontes ediacarano-criogenianas. A idade máxima de deposição da bacia é definida em ca. 594 Ma, limitada pelos pico principal de zircões mais jovens. O caráter sin-orogênico da bacia é definido pelo fato de que mais de 50% dos grãos apresentam idades próximas da idade máxima de sedimentação da bacia. O maior pico de idades U-Pb de zircão é registrado em torno de 620 Ma, indicando um evento de sedimentação sin-colisional relacionado à atividade de um arco magmático contemporâneo à deposição. O desenvolvimento dessa margem ativa teria acontecido após ca. 620 Ma e se encerrado em 594 Ma com a deposição da bacia. A idade 40Ar-39Ar de 536±4 Ma obtida para o metamorfismo das rochas encaixantes indica a continuação da temperatura de aproximadamente 400 oC até o Cambriano. Pode-se sugerir também a presença de alguns plutons que não afloram na área que causou o aquecimento da área neste período. A taxa rápida de 25oC/Myr indica a taxa de resfriamento do pluton granodiorítico, associação às falhas transcorrentes relacionadas ao Lineamento Transbrasiliano. Os dados geoquímicos e geocronológicos U-Pb do magmatismo e de zircão detrítico, associado ao contexto tectônico e metamórfico, indicam que a evolução da porção central do Gondwana Oriental ultrapassou os 600 Ma e, possivelmente, um oceano mais jovem foi consumido, o Oceano Clymene.