Influência dos fatores naturais e antrópicos no atropelamento de mamíferos na BR-163, Mato Grosso

Abstract

Diversos fatores influenciam na dinâmica de atropelamento dos mamíferos silvestres em rodovias, mas alguns são pouco conhecidos. Assim, os objetivos deste estudo foram identificar e avaliar a relação da mastofauna vítima de atropelamentos na rodovia BR-163, estado do Mato Grosso, com: 1 - as características da paisagem; 2 - as queimadas que ocorrem ao longo da rodovia; 3 - as variações do clima e do tráfego. Foram registradas 36 espécies, a maioria de médio ou grande porte (> 3kg). A cobertura florestal foi a variável de ocupação do solo mais importante e relacionada ao aumento do atropelamento da maioria das espécies. Indicando o uso dessas áreas como refúgios ou corredores em paisagens fragmentadas. Mamíferos especialistas estiveram relacionados com seus hábitats específicos. O grupo de espécies semiaquáticas como um todo e Hydrochoerus hydrochaeris relacionados com a água e Sapajus sp. e o grupo de espécies arborícolas com áreas florestadas. Análises do uso do solo na escala de 1 km no entorno do local de atropelamento foram mais informativas que as de 100 m, indicando que o tamanho da área de vida das espécies deve ser considerado para a definição da escala. A maioria das espécies apresentou relação negativa com a presença de incêndios, que pode estar sendo causada por mortalidade, redução na disponibilidade de recursos ou conversão de áreas naturais para atividade agropecuária. Tanto a capivara quanto o grupo de espécies semiaquáticas apresentaram relação positiva com a presença de incêndios e podem estar sendo atraídos pela rebrota da vegetação. O aumento no volume de tráfego de veículos comerciais pesados causou redução no registro de atropelamentos para a maioria das espécies. Isso pode indicar um efeito barreira causado pelo tráfego intenso ou redução dos atropelamentos devido a redução da velocidade dos veículos. O atropelamento do grupo de espécies arborícolas e de Sapajus sp. aumentou com o volume de veículos de passeio. Estes, podem estar sendo atropelados ao se aproximarem da estrada para consumir lixo jogado por motoristas ou grãos caídos de caminhões, comportamento que foi registrado durante o estudo. O atropelamento de tatus foi maior no período chuvoso e o de raposas, Coendou prehensilis, e do grupo de mamíferos arborícolas, no período seco. A variação dos atropelamentos Tamandua tetradactyla e tatus pode ser uma resposta a temperatura média devido a suas temperaturas corporais e taxas metabólicas mais baixas.