Atuação do psicólogo escolar no atendimento ao aluno superdotado segundo psicólogos, professores e familiares

Abstract

Ao definir a psicologia escolar como campo de atuação profissional, de pesquisa e de produção de conhecimentos científicos do psicólogo na escola, defende-se que o principal objetivo do psicólogo escolar é otimizar os processos de desenvolvimento humano e aprendizagem, implementando ações com foco em todos os participantes do processo educativo, ancoradas em saberes da psicologia. Tendo em vista que uma das possibilidades de atuação do psicólogo escolar consiste em planejar e implementar estratégias, intervenções e programas direcionados para a educação especial, é importante analisar a contribuição desse profissional no atendimento a alunos superdotados. Conforme o referencial teórico adotado nesta pesquisa—a Teoria Para o Desenvolvimento do Potencial Humano, de Joseph Renzulli—, superdotados são indivíduos com desempenho excepcional ou potencial para um desempenho superior nos domínios acadêmico, criativo, artístico ou de liderança em comparação com seus pares. Contudo, apresentar alto potencial em determinada área não garante a manifestação de um desempenho superior, sendo preciso atender às necessidades acadêmicas, cognitivas e socioemocionais do superdotado para possibilitar e favorecer o seu desenvolvimento. Além de mitos e crenças equivocadas sobre a superdotação—dificultando a identificação e a oferta de um atendimento apropriado para o estudante superdotado—, ainda são incipientes os recursos baseados em evidências empíricas para orientar a prática do psicólogo escolar em tal contexto. A partir disso, o objetivo deste estudo foi investigar a atuação do psicólogo escolar em um atendimento educacional especializado a estudantes superdotados segundo psicólogos escolares, professores do atendimento e familiares de alunos atendidos por esses psicólogos e/ou professores. Para tanto, empregou-se a abordagem qualitativa de pesquisa. O cenário do estudo foi o Atendimento Educacional Especializado a Estudantes com Altas Habilidades/Superdotação (AEE-AH/SD), oferecido pela Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal em Salas de Recursos Multifuncionais. Participaram cinco psicólogas(os) escolares e cinco professoras(es) atuantes no AEE-AH/SD, além de seis familiares de alunos que frequentavam salas de recursos nas quais as(os) psicólogas(os) e/ou professoras(es) atuavam, totalizando 16 participantes, com idades entre 32 e 60 anos. Utilizou-se a entrevista semiestruturada como instrumento. Para a análise dos dados, optou-se pela análise de conteúdo qualitativa na perspectiva de Bardin. Os resultados revelaram que as(os) psicólogas(os) escolares realizam práticas envolvendo alunos, familiares e professoras(es), avaliadas positivamente pela maior parte das(os) entrevistadas(os), embora as(os) psicólogas(os) do AEE-AH/SD enfrentem desafios e limitações na realização dessas práticas. Cinco categorias de práticas tiveram destaque: avaliação psicológica do aluno; práticas de acolhimento, suporte e orientação; intervenções breves; planejamento, desenvolvimento e acompanhamento das atividades da sala de recursos; e divulgação do atendimento ao superdotado. Por mais que a maioria das(os) participantes tenha relatado que a(o) psicóloga(o) escolar contribui significativamente para o suporte a alunos, famílias e professoras(es)-tutoras(es), ressalta-se que alguns fatores dificultam e/ou impedem que a(o) psicóloga(o) realize um trabalho ainda mais amplo e efetivo, tais como: impacto de mitos e crenças equivocadas acerca da superdotação e do papel da(o) psicóloga(o) escolar; inconsistência na legislação que regulamenta a educação do superdotado; inconstância e insuficiência de investimentos governamentais no AEE-AH/SD; escassez de recursos humanos, materiais e de capacitação profissional no programa; e influência de outros fatores contextuais. Com base nos achados desta pesquisa, propõe-se direcionamentos para expandir e aprimorar a atuação da(o) psicóloga(o) escolar no atendimento ao superdotado, bem como sugestões para estudos futuros nesse campo.