A reinvenção do espaço urbano a partir da cultura e do entretenimento-turismo : o caso do Porto Maravilha no Rio de Janeiro

Abstract

Nas últimas décadas, diversas cidades ao redor do mundo passaram a destinar recursos materiais e simbólicos para a promoção de projetos de renovação urbana com viés turístico-cultural. Nesses projetos, investe-se na requalificação e modernização tanto da infraestrutura quanto da imagem de espaços urbanos degradados com o objetivo de instalar as bases necessárias para a formação de um complexo de negócios e serviços com ênfase nas áreas de cultura e entretenimento-turismo. Diante desse contexto, a presente tese tem como problema de pesquisa o seguinte questionamento: quais são as condições históricosociais que possibilitam a incorporação da cultura e do entretenimento-turismo à lógica das políticas de renovação urbana? Assim, o esforço de pesquisa esteve voltado à compreensão dos contextos de consagração desses dois setores enquanto estratégia de desenvolvimento urbano e peça fundamental de projetos de renovação no mundo todo. O recorte empírico, por sua vez, foi delimitado em torno da análise de um caso histórico específico: o longo processo de renovação da zona portuária do Rio de Janeiro, gestado ainda na década de 1980 e efetivamente empreendido no projeto Porto Maravilha (2009 até o presente). Em linhas gerais, o trabalho procura demonstrar como o processo em questão é desdobramento de uma forma de pensar as cidades gestada no contexto político-social norte-americano e incorporada aos projetos de cidade construídos por facções das elites políticas e empresariais cariocas. Desse modo, os dois primeiros capítulos reconstituem as dinâmicas estruturais e históricas que culminaram no surgimento das políticas turístico-culturais de renovação urbana nos EUA na década de 1960 e mapeiam como essa nova forma de pensamento sobre as cidades foi sistematicamente exportada para a Europa e outras partes do mundo através da atuação decisiva de uma rede de circulação de modelos e ideias. O terceiro capítulo trata das condições não-unívocas de recepção desse modelo no Rio de Janeiro, ressaltando a centralidade das disputas locais pelo domínio dos campos político e burocrático e todo o respectivo trabalho de proposição de projetos de cidade por parte de facções das elites políticas e empresariais locais. O capítulo demonstra como a renovação da zona portuária do Rio se constituiu em objeto de interesse das elites cariocas durante 30 anos. Por fim, o quarto capítulo descreve o projeto Porto Maravilha tanto como episódio desse longo percurso de imaginação e disputa das elites em torno daquela região, quanto como materialização idiossincrática (não-linear e não-unívoca) da forma de pensamento que combina desenvolvimento urbano e econômico, cultura e entretenimento-turismo.