Sujeito-coletivo uma fronteira para o capitalismo : entrelaçando cosmologia, perseguição e política agrária no Benim

Abstract

O presente estudo toma a noção de sujeito-coletivo como um conceito articulador entre as múltiplas dimensões -sociais, políticas, econômicas e espirituais- que circundaram a implementação da política de desenvolvimento agrário no Benim (1975-1980) durante o regime marxista-leninista. Esta política foi tomada como o motor que impulsionaria a acumulação do capital pelo Estado e o desenvolvimento industrial. Concomitante a este processo, duas leis foram instauradas para dar suporte a esta política - lei antifeudal e antibruxaria - que acabaram por impactar diretamente o ritmo de vida rural. Cujo resultado levou a perseguições políticas; interdições de iniciações ao Vodun e das cerimônias aos Mortos; bem como, uma resistência a manutenção do emprego da mão de obra familiar na agricultura. As análises tecidas ao longo da tese tomam a inseparabilidade entre o mundofísico-espiritual como pedra angular da argumentação aqui desenvolvida. Cujos valores morais que constituem esta inseparabilidade orientam a compreensão de mundo e de relações sociais entre meus interlocutores. Em função desta inseparabilidade, os laços entre seres humanos e natureza, sobretudo neste caso com à terra, são profundamente emaranhados com os Vodun, com os Mortos e com outras divindades. Assim, os sujeitos buscam constantemente se equilibrarem entre uma lógica utilitarista do uso da terra, imposta pelas relações capitalistas, e um uso que lhes “importava”, de base era espiritual. Ou seja, entre uma lógica de uso ilimitado de recursos e uma lógica de uso pautado pelo respeito-medo da Natureza. Embora esta tese trabalhe um período histórico determinado, ela percorre diferentes temporalidades históricas - do presente e do passado - e dimensões espirituais para compor uma visão cosmopolítica que configura uma forma espiritualizada de compreensão das relações políticas, econômicas, sociais de existência dos sujeitos no mundo e da natureza no mundo. Esta forma espiritualizada configura o exercício de uma política do cotidiano.