Relações pessoa-rua entre construções discursivas e sentidos (inter)subjetivos : implicações psicossociais para a (re)definição de políticas públicas

Abstract

Buscou-se neste estudo acessar as (inter)relações pessoa-rua a partir dos sentidos expressados pelos próprios sujeitos que vivem e permanecem nesse contexto. A pesquisa está focada nos posicionamentos (con)textuais entre os sujeitos que moram na rua e o seu respectivo campo sociocultural, com ênfase em como essa relação emerge a partir das representações discursivas deste lugar de encontro. Foram entrevistados dez participantes, das e dos quais cinco atualmente em situação de rua sem intenção de sair e outra/os cinco que tiveram experiência de permanência na rua, mas que já não se encontravam mais nesta condição. O recorte do estudo objetivou, a partir de uma perspectiva socioconstrucionista e cultural-histórica, alcançar os processos que veiculam a permanência na rua sem naturalizar e normativizar as modalidades de (co)construção de significados intra-, inter e extra subjetivos, subjacentes a essa realidade. Foram aplicados métodos e ferramentas qualitativas e quali-quantitativas para a compreensão das coordenadas discursivas. Logo, foram adotados programas informáticos para a análise lexicográfica e lexicométrica das produções (con)textuais, respectivamente o Transana e o Iramuteq. Através da análise do discurso, foram observadas as seguintes categorias: a) Os eventos e elementos que antecederam a condição de viver na rua b) A experiência (inter)subjetiva no contexto de rua e suas coordenadas simbolicas c) A saída ou permanência nesse espaço urbano e sociocultural. Os achados denotam que a rua foi considerada como um espaço físico e simbólico de vida, essencialmente, a partir de três possibilidades: 1) uma situação transitória; 2) um arranjo existencial permeado por diferentes margens de agenciamento; 3) uma reinvindicação identitária de si. Os resultados evidenciaram a necessidade de promover políticas públicas que implementem as representações subjetivas desta população, a fim de ultrapassar um modus operandis exclusivamente ancorado a uma predominante visão assistencialista e patologizante, muitas vezes ineficiente para enfrentar os processos de exclusão e marginalização que so podem ser superados, considerando as motivações (inter)subjetivas de quem encontra, ou para escolha ou para necessidade, na rua uma possibilidade de existência.