Atos de reexistência : juventude negra, reinvenções e resistência anti-extermínio

Abstract

Com o objetivo de identificar e discutir as estratégias adotadas por sujeitos jovens negros diante do processo de extermínio que enfrentam, foram analisadas produções culturais, como o rap, a literatura marginal e negra, e produções audiovisuais realizadas por estes sujeitos. A análise destas produções permitiu observar que a juventude e a negritude brasileira e da Diáspora não se encontram passivas diante deste processo. A análise do comportamento do Estado brasileiro diante do extermínio, expresso nos dados públicos sobre o assunto, revela o caráter racializado destas mortes, e revela aquilo que foi denominado neste trabalho de dialética da (in)diferença. Este movimento dialético produz, a um só tempo, a diferença que permite a classificação social do jovem negro como um inimigo interno a ser combatido; e a indiferença a estas mortes e demandas de proteção e outros direitos negligenciados a tais sujeitos e suas famílias. Considerando que os aspectos raciais da realidade em questão possuem importância fundamental, e que o debate sobre raça se encontra ainda pouco consolidado neste campo, realizou-se um resgate histórico e analítico sobre o uso da raça como categoria de análise em Ciências Sociais. A partir deste processo, foi elaborada também uma proposta dialética e diaspórica de conceituação desta categoria. Para dar conta da complexidade do objeto e objetivos de pesquisa, percebeu-se a importância de se discutir e apresentar uma proposta metodológica capaz de apreender as particularidades, as dinâmicas e as múltiplas determinações da realidade em questão. A perspectiva dialética crítica combinada à perspectiva decolonial subsidiaram não apenas a compreensão do sujeito jovem negro em sua potência, mas também o resgate de trabalhos, autores e linguagens subalternizadas no universo acadêmico. A teoria crítica da raça subsidiou o trabalho com trajetórias de vida, (auto)biografias e contra-narrativas, como instrumentos capazes de abordar o tema e a problemática a partir do prisma de sujeitos ainda marginalizados nos espaços acadêmicos. Por ser o extermínio contra a juventude negra e seu enfrentamento um assunto em intenso processo de transformação na atualidade, a análise da realidade por meio de matérias jornalísticas também foram importantes no decorrer pesquisa. Entre retrocessos e avanços no enfrentamento a estas mortes, a produção cultural jovem e negra analisada evidenciou a consciência destes sujeitos acerca do problema, a capacidade de compreendê-lo, e as estratégias de enfrentá-lo, por meio da (re)elaboração de narrativas que atribuam importância e humanidade às suas vidas. A estes esforços foi atribuído o nome de atos de reexistência.