A mulher, o mito e o estereótipo na literatura brasileira de expressão amazônica

Abstract

Contrária ao viés de um regionalismo misterioso e exótico, muito comum à maioria daqueles que buscaram (ou buscam) conceber a Amazônia, esta pesquisa tem por objetivo analisar, a partir de distintos marcadores sociais, como classe, gênero, raça e etnia, de que forma a mulher é construída e representada no texto literário de expressão amazônica e em que medida fatores discursivos e imagéticos operam na produção de desigualdades e exclusões que acometem o ser feminino em sua especificidade. Para tanto, o corpus literário da pesquisa coloca em relevo uma seleção de autores e obras considerados significativos durante o percurso de criação e consolidação de uma tradição literária de expressão amazônica, iniciada a partir dos relatos dos primeiros expedicionários na Amazônia durante o séc. XVI; passando pelo período colonial (séc. XVI e XVII); adentrando o ciclo gomífero (séc. XIX e XX) e indo desaguar em autores mais contemporâneos, assim sequenciados: João Henrique Wilkens, Araújo Amazonas, Inglês de Sousa, Alberto Rangel, Ferreira de Castro, Álvaro Maia, Dalcídio Jurandir, Milton Hatoum. A partir desse panorama literário, poderemos identificar injunções discursivas e imagéticas que atravessam a construção do ser feminino no texto literário de expressão amazônica, em diferentes âmbitos e categorias. Para dar sustentabilidade à discussão, o referencial teórico toma por base os estudos culturais e de gênero e a crítica literária feminista, apoiado nos trabalhos de Adriana Piscitelli, Elaine Showalter, Gayatri Spivak, Pierre Bourdieu, Regina Dalcastagnè, Sandra Gilbert, Simone de Beauvoir, Thomas Bonnici, entre outros estudiosos da área que contribuem com a discussão em tela.