Etnobotânica das plantas do Cerrado : um diagnóstico das publicações

Abstract

O Cerrado possui elevado potencial etnobotânico. Os trabalhos de revisão bibliográfica sobre plantas medicinais são importantes para se compreender o atual conhecimento desse tema e são poucas as compilações do que já se tem publicado no bioma. O objetivo desse estudo foi analisar, através de uma revisão bibliográfica, as publicações e espécies nelas citadas sobre o uso de plantas medicinais nativas do bioma Cerrado. Foi realizada uma pesquisa de literatura sistemática baseada na web de artigos científicos sobre plantas medicinais no domínio do Cerrado publicados até o ano de 2018. Os artigos compilados foram avaliados para a sua qualificação em baixo, moderado e alto risco de viés sendo identificados os principais problemas de enviesamento. Foram relacionadas as espécies medicinais nativas do Cerrado, verificada a distribuição das espécies nos artigos analisados, ordenada por NMDS, e avaliado o incremento temporal de espécies através de curva de amostragem dos artigos que possuíam voucher de depósito em herbário. Foram compilados no total 53 artigos, sendo a maioria classificado com risco de viés alto (30), seguido de moderado (15) e baixo (8). O alto risco de enviesamento de dados pode estar relacionado à imperícia de autores, falta de rigor no corpo editorial e ainda ser apenas um reflexo da produção científica como um todo. Por outro lado, a qualidade das publicações tem aumentado na última década, sendo determinante para isso a publicação do código de ética da Sociedade Internacional de Etnobiologia (ISE) e a implementação da Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015, que regulamenta o cadastro de atividades que utilizam o patrimônio genético brasileiro. Dentre os trabalhos compilados, 20 artigos apresentaram voucher, sendo neles computadas 108 famílias, 341 gêneros e 576 espécies, com um total de 20 categorias de uso terapêutico. A maior quantidade de citações de espécies foi para as famílias Fabaceae e Asteraceae, que estão entre a 10 mais ricas em espécies no Cerrado. As espécies Hymenaea courbaril L. e Lippia alba (Mill.) N.E.Br. ex P. Wilson. foram as mais citadas e possuem diversos compostos fitoquímicos, sendo citadas para diversos usos na literatura. A curva de acumulação de espécies não atingiu a suficiência amostral, demonstrando que ainda existem espécies a serem estudadas no Cerrado. A ordenação por nMDS apresentou apenas um agrupamento de espécies em uma região de fragmentos de Cerrado em meio a Caatinga, sugerindo uma heterogeneidade cultural no uso das plantas. Esse estudo possui grande potencial de bioprospecção e aponta a necessidade de mais pesquisas etnobotânicas para o Cerrado.