Reflexões e compossibilidades de atuação para atores e contadores de histórias

Abstract

Esta pesquisa tece reflexões entre os ofícios artísticos de ator e de contador de histórias, nas perspectivas conceitual, técnica de atuação e também filosófica, à luz de dilemas atuais. Contextualiza-se na práxis de um ator e contador de histórias membro do grupo Coletiva Teatro e fundamenta-se na Filosofia do Teatro de Jorge Dubatti; na Estética do Performativo de Erika Fischer-Lichte; em diferentes articulações teóricas de estudos do teatro e da performance, contação de histórias e atuação cênica; em análises de práticas artísticas e processos criativos de atrizes e atores contadores; e em ensaios filosóficos e do campo das ciências sociais sobre o mundo contemporâneo. Questionam-se aspectos da tradição que, segundo Patrice Pavis, tende a separar o ator do contador e o teatro da contação – como quando o sentido pejorativo do termo "teatral" é usado, e suas raízes. Investigam-se pontos de contato entre os ofícios artísticos em questão, elucidando a teatralidade, performatividade, interpretação, representação e atuação como processos específicos e comuns a atores e a contadores, bem como a contação de histórias como arte do encontro, modalidade teatral e atividade de natureza performativa. São apresentadas estratégias e dispositivos criativos de atuação para atores e contadores – compossibilidades de atuação – através de noções e ferramentas técnicas relacionadas à criação de personagens, ação física e gesto, acompanhadas de exemplos em práticas artísticas. Essas compossibilidades incluem: caracterização; graus de realidade da personagem; ordens perceptivas da presença e representação; a multi-estabilização dessas ordens em cena pelo atuador; narradores que contam por si e construções de personagens contadores; a relação entre ensaio e espontaneidade, afeto, ação física, gesto e suas formas de expressão; as personagens em contos populares e suas camadas simbólicas na ação de contar; e a díade materializar-evocar de duplo potencial criativo presente nas ações físicas e gestos criada a partir de Stanislavski. Finalmente, somos convidados a pensar filosoficamente sobre a atuação teatral acompanhada da consciência de sua relação com este mundo repleto de forças e tecnologias desagregadoras, e a necessidade de tomada de posição crítica sobre seu poder micropolítico. Nesse sentido, articula-se uma proposição específica: atuar como contadores de histórias para o reencantamento do mundo. A pesquisa defende a relevância de uma abordagem mais aproximativa e compossibilitadora entre e para os ofícios artísticos de ator e contador de histórias, em suas pluralidades e potencialidades no e para o teatro performativo contemporâneo.