Guerras de Sertão : violência, segurança e cidadania no Brasil

Abstract

A tese objetiva investigar, em atos e narrativas, representações da violência produzidas em nome da segurança da sociedade brasileira. Para tal, articula análise sobre o enquadramento da violência presente em Os Sertões, de Euclides da Cunha, com análise da performance política de deputados e deputadas federais oriundos das forças de segurança pública e membros da Comissão Parlamentar de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional. Assim como Os Sertões, a tese se encontra dividida em três partes; a primeira, A Terra, dedica-se à análise de Os Sertões e do pensamento social brasileiro na virada do século XIX para o século XX; a segunda, O Homem, à revisão bibliográfica sobre o desenvolvimento de sentidos orientadores para a produção de políticas de segurança pública no Brasil redemocratizado bem como ao material colhido na Comissão; a terceira, A Luta, objetiva construir pontes de sentido entre as primeiras duas partes mediante o auxílio de conceitos oriundos do campo de pesquisas sobre racismo e sobre violência no Brasil. Ainda, em A Luta, a tese realiza quatro grandes investidas sobre funções estruturais das representações da violência na sociedade brasileira: enquanto instrumento de disputas territoriais, de reprodução de hierarquias raciais, como linguagem e como mercadoria. A tese conclui que, ao reificar corpos e territórios negros como representação da ameaça, o campo da segurança pública é apreendido em uma dinâmica de retroalimentação com o imaginário simbólico racista e o regime de hierarquia racial que fundaram a sociedade brasileira; o que, por sua vez, impõe limites raciais aos processos de democratização e de efetivação e de garantia de direitos na sociedade brasileira.