Vivências de homens privados de liberdade, pós testagem positiva para Covid-19

Abstract

Introdução: o novo coronavírus, também chamado de COVID-19 (Coronavirus Disease 2019), é uma doença causada pelo vírus SARS-CoV2 (Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2) que surgiu em dezembro de 2019 na China. Essa doença se alastrou rapidamente pelo mundo, sendo, posteriormente, declarada uma pandemia, em março de 2020. Durante o período pandêmico, tomaram-se várias medidas protetivas para evitar a propagação do vírus como é o caso de utilização de máscaras, higienização das mãos, além da realização de distanciamento e isolamento social. A chegada do vírus em ambiente prisional preocupou as autoridades sanitárias, principalmente, pelo contexto carcerário, o que dificulta a implementação das medidas de proteção preconizadas pelas agências mundiais de saúde. Umas das medidas para minimizar o contágio pela COVID-19 foi o isolamento de casos confirmados pela doença, com realização de cumprimento de quarentena. Frente ao exposto, o estudo teve como pergunta norteadora: quais foram os impactos do isolamento social em pessoas privadas de liberdade (PPL) pós-diagnóstico de COVID-19? Objetivo: conhecer as vivências de homens privados de liberdade submetidos a isolamento social pósdiagnóstico de COVID-19. Método: pesquisa exploratória e descritiva, com abordagem qualitativa, em um complexo prisional masculino do Distrito Federal. Participaram 31 PPLs que estavam em superisolamento, após testagem positiva para COVID-19. Coletaram-se os dados entre junho e julho de 2021, com a utilização de dois instrumentos: questionário socioeconômico e roteiro de entrevista semiestruturado. Analisou-se o conteúdo das entrevistas com auxílio do software ALCESTE. Resultados: a análise revelou a existência de dois eixos significativos. O primeiro, denominado “Enfrentamento do Superisolamento”, foi formado por três classes nomeadas de reorganização das rotinas (coping), sentido da vida e da morte, e a morte de si. O segundo, chamado “Enfrentamento da Doença”, composto por duas categorias denominadas sintomas físicos e emocionais da COVID-19, e informações para manejo da COVID-19. Os discursos permitiram identificar que as atividades físicas e prática religiosa utilizada, como coping religioso, constituíram as principais formas de enfrentamento no período do superisolamento. O impacto nas emoções e sintomas psicológicos foram manifestados com ansiedade, angústia, medo da morte e preocupação com o adoecer da família. Conclusão: o estudo possibilitou conhecer as formas de enfrentamento utilizadas pelos detentos durante o superisolamento, além de indicar a importância da realização de ações em saúde que promovam a assistência integral das pessoas privadas de liberdade em períodos de surtos de doenças, como foi o caso da pandemia de COVID-19.