Compreensão da perspectiva de cuidadores sobre suas atividades em saúde desempenhadas no contexto da internação domiciliar

Abstract

Introdução: As mudanças demográficas e epidemiológicas marcadas pelo envelhecimento populacional e, consequentemente, aumento da prevalência de condições crônicas, exige uma reorganização dos serviços de saúde, com foco na Atenção Domiciliar. A admissão de usuários dependentes funcionalmente nesta modalidade de assistência é condicionada à presença de um cuidador que, em sua maioria, são pessoas sem o devido preparo. Com isso, a falta de conhecimentos e habilidades pode interferir na prevenção ou gerenciamento de doenças agudas e crônicas, além de aumentar o risco para complicações e hospitalizações. Objetivo: Compreender as percepções de cuidadores sobre o cuidado em saúde que desempenham na internação domiciliar. Método: Trata-se de estudo descritivo, exploratório, de abordagem qualitativa. O método adotado para coleta de dados foi a entrevista semiestruturada, realizada com 10 cuidadores inscritos no Serviço de Atenção Domiciliar de uma região do Distrito Federal – Núcleo Regional de Atenção Domiciliar. Os participantes foram os cuidadores primários de pessoas cadastradas com até seis meses de admissão, maior de 18 anos. Foi realizado o agendamento prévio das entrevistas, efetuadas com compartilhamento de som e voz. Dados sociodemográficos foram coletados por meio de instrumento estruturado. Foi aplicada a análise temática de conteúdo para o tratamento dos dados qualitativos e para análise dos dados sociodemográficos, utilizou-se a estatística descritiva com levantamento de frequência simples e frequência absoluta. Este estudo teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos, conforme pareceres n.º 5.287.177/22 e n.º 5.405.132/22. Resultados e Discussão: Dos 10 entrevistados, 9 eram mulheres, com idade média de 51,2 anos, a maioria casados, com grau de parentesco com a pessoa cuidada, ensino médio completo ou superior. Apenas um cuidador era remunerado, mas sem formação para exercer a atividade. 100% dos participantes relataram executar atividades de higiene, administração de medicamentos e alimentação, 50% realizavam curativos em lesões e 80% relataram cuidados com dispositivos. 90% pacientes deste estudo eram acamados. Foram identificadas três categorias temáticas: Atividades em saúde desempenhadas pelos cuidadores; Perspectiva do cuidador sobre cuidar no domicílio e Trajetória do conhecimento do cuidador. A primeira categoria revelou que os participantes deste estudo relataram realizar algumas atividades privativas de profissionais de saúde, sob orientação desses profissionais. A segunda categoria demonstrou que as orientações para o desempenho das atividades dos cuidadores não ocorrem de forma sistematizada e suficiente para proporcionar segurança aos mesmos, no entanto, não registraram questionamentos. Por fim, a terceira categoria revelou que os cuidadores reproduzem frequentemente cuidados observados e/ou aprendidos com os profissionais de saúde. Considerações finais: Conclui-se que o preparo dos cuidadores ocorre com predominância de orientações prescritivas pela equipe de saúde, de forma não sistematizada, podendo interferir na qualidade do cuidado desempenhado por eles. Os achados deste estudo podem ser norteadores para consubstanciar a gestão da internação domiciliar no que tange aos problemas apontados, considerando a necessidade de implementação de um programa de transição do cuidado hospitalar para o domiciliar, além de ações e políticas públicas que possam propiciar uma rede de suporte aos cuidadores e considerar suas necessidades individuais.