A mediação social transformadora : um estudo sobre processos de subjetivação política na experiência do projeto Estudar em Paz

Abstract

Na contemporaneidade, os modos de subjetivação se dão sob a égide do neoliberalismo, uma nova racionalidade política do capitalismo que, pelo seu caráter sistêmico, estrutura as ações do governo e a conduta dos governados, estendendo a lógica do capital a todas as relações sociais e esferas da vida. Tal racionalidade afeta diretamente os contextos educativos, difundindo uma educação despolitizada e antidemocrática, gerando violências de todo tipo e um mal-estar que abala o cotidiano das escolas. Daí a importância de desenvolver e pesquisar práxis educativas que possam desencadear novos processos de subjetivação, em contraposição à proposta neoliberal. Nesse sentido, o presente trabalho investigou a mediação social transformadora, uma práxis político-educativa desenvolvida pelo projeto Estudar em Paz, e como ela desencadeia processos de subjetivação política nos contextos educativos, diferentes dos processos subjetivos decorrentes do neoliberalismo. Essa mediação foi gestada junto ao Núcleo de Estudos para a Paz e os Direitos Humanos (NEP), da Universidade de BrasíliaUnB, para atender aos objetivos do projeto Estudar em Paz: mediação de conflitos no contexto escolar, um projeto de extensão que há 13 anos está em atividade na rede pública de ensino do Distrito Federal, atuando em contextos de violência, exclusão e desigualdade social. Trata-se de uma pesquisa qualitativa de natureza exploratória, com estudo de casos múltiplos em duas escolas do Distrito Federal, cuja análise dos dados foi norteada pelos princípios da Análise Temática Indutiva. O estudo revelou que as mediações coletivas do projeto, na perspectiva da mediação social transformadora, abrem e alargam os espaços coletivos de fala, escuta, participação e de explicitação do conflito, da violência e do dissenso nos contextos educativos. Assim, criam, reparam e fortalecem o laço social e permitem uma multiplicidade de novas partilhas do sensível. Dessa forma, como movimento de contraconduta, desencadeiam processos de subjetivação política diferentes dos processos subjetivos neoliberais.