Veredas, meandros e convergências para o fazer pedagógico dos docentes na escola do campo : do livro didático aos recursos educacionais digitais

Abstract

Esta tese teve como objetivo analisar criticamente a percepção de docentes sobre a interrelação entre os livros didáticos do PNLD/2019 dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e os Recursos Educacionais Digitais (RED) em escolas do campo do Distrito Federal. Para tanto, buscamos compreender qual a influência dos livros didáticos na percepção de professores em relação à escola do campo, identificar as concepções de educadores acerca dos RED e compreender como esses recursos aparecem nos livros didáticos. Teoricamente, nos apoiamos em Arroyo, Caldart e Molina (2011) em relação às questões do campo; Bueno e Carniel (2015), em relação aos recursos digitais; Freitag, Mota e Costa (1987), Silva e Chelotti (2018) sobre os livros didáticos; Williams (1979) sobre a tradição seletiva, entre outros. O método utilizado para analisar os dados foi a Análise de Conteúdo de Bardin (2011), predominantemente qualitativo, por meio de levantamento de conteúdo do material didático do professor. Foram examinados 11 manuais do professor do PNLD/2019 do 3º, 4º e 5º ano do Ensino Fundamental, e 29 entrevistas foram realizadas com docentes de 10 escolas do campo das Coordenações Regionais de Ensino de Planaltina-DF e Sobradinho-DF. Como resultados, obtivemos que o espaço do campo nos livros didáticos analisados está associado à cidade; a política de distribuição do livro didático do campo foi interrompida em 2018, implicando na distribuição dos mesmos volumes para o campo e cidade em 2019, que foram elaborados de acordo com a BNCC; os componentes curriculares que refletem o campo são geografia e história. No que se refere à percepção dos docentes, a maioria utiliza o livro didático frequentemente em formato impresso; acreditam que os conteúdos desses livros são imparciais, embora alguns reconheçam que os conteúdos replicam uma visão hegemônica do mundo; os professores entrevistados são favoráveis ao uso de materiais específicos para escola do campo, pois reconhecem que essas escolas devem utilizar materiais diferentes das escolas urbanas; eles acreditam que os livros didáticos que estavam utilizando no momento das entrevistas não representam os estudantes; os professores escolheram a escola do campo para trabalhar em função da proximidade de sua residência, da aparente tranquilidade; eles percebem e fazem uso de RED, em suas aulas, que foram sugeridos pelos livros para ampliação dos conteúdos, como sites, filmes, CD-música, vídeos, atividades e livros em PDF. Concluímos que a construção do fazer pedagógico docente emerge na inter-relação entre os livros didáticos e os RED, sendo que aqueles são concebidos como prioritários enquanto estes são secundários. Nesse contexto, a percepção docente sobre o campo nos conteúdos escolares se inicia na BNCC, passa pelos livros didáticos, manuais docentes do PNLD e recursos digitais, assim, entendemos que esse processo é dinâmico e recebe influência de uma tradição que seleciona livros pensados para uma realidade urbana, mas são utilizados no campo, reafirmando uma hegemonia que se defronta com as contradições, resultando em novas disputas no plano simbólico, retratadas, sobretudo, nos livros didáticos, nos RED e nos movimentos em disputas por novas hegemonias.