Epidemias e transformações fúnebres na freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Aracaju (1855-1896)

Abstract

Sob a égide do discurso da modernidade e do progresso, após o ato administrativo de 17 de março de 1855, um pequeno reduto de pescadores tornou-se o novo centro administrativo da Província de Sergipe. Apesar dos problemas estruturais e sanitários que a acompanharam até o final do Oitocentos, a recém-criada cidade de Aracaju deveria ser, ao mesmo tempo, o centro político e econômico de que a província precisava. Além das transformações urbanas e da tessitura de estratégias sociais, econômicas e políticas, é importante desvendar também como os agentes históricos se relacionavam com a morte neste mundo, dando ênfase à antiga concepção de boa-morte e dos meios materiais e espirituais empenhados para garanti-la, bem como identificar a inserção de novos costumes fúnebres para a realidade brasileira da segunda metade do século XIX. Dessa maneira, esta pesquisa volta-se para o estudo dos ritos fúnebres praticados pela população católica e livre da cidade de Aracaju/SE e seu termo numa época de discussões efervescentes a respeito da secularização e da medicalização da morte. O trabalho concentra-se no período entre a transferência da capital da Província de São Cristóvão para Aracaju (1855) e a última grande epidemia de varíola do século XIX (1896). A partir do diálogo com variados tipos de fontes primárias (inventários, testamentos, ofícios, relatórios provinciais, jornais, registros de óbito) e com a bibliografia especializada, buscou-se analisar as práticas e representações relativas à morte nesse contexto específico, assim como as mudanças históricas por que passou a sociedade aracajuana durante o recorte temporal estudado.