O processo de trabalho de uma equipe de transplante cardíaco

Abstract

O transplante cardíaco constitui-se em uma alternativa para o tratamento de doenças cardiovasculares irreversíveis, melhorando a expectativa e a qualidade de vida do indivíduo. O trabalho em saúde possui uma perspectiva coletiva, em que o produto da assistência de saúde é o ato de cuidar, sendo produzido através da interação entre o profissional de saúde (trabalhador) e o paciente (indivíduo). Como se trata de um trabalho vivo, realizado no ato, ele sofre diversas interferências e acaba ocasionando a necessidade de escolhas por parte dos trabalhadores diante de suas dramáticas. Compreender a dinâmica do serviço de uma equipe de transplante cardíaco auxilia no processo vivenciado por esses trabalhadores, que resulta em um trabalho real. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, exploratória descritiva com recrutamento por amostra de conveniência. O estudo ocorreu no Brasil em hospital especializado de alta complexidade em serviços cardiológicos. A pesquisa foi realizada no setor de transplante de órgãos. Os participantes foram 20 profissionais de saúde, pertencentes à equipe de transplante cardíaco (médicos, enfermeiros, nutricionistas, fisioterapeutas, odontólogos, assistentes sociais e psicólogos) que atua nas fases de pré-transplante, intra-operatório e pós-transplante cardíaco. Os dados foram coletados por meio da análise documental, observação e entrevista semiestruturada. Foi utilizada a análise de conteúdo aliada à triangulação de informações para categorização dos dados. Para isso, o software ATLAS.TI foi utilizado na análise. Os resultados foram agrupados em cinco categorias temáticas: a caracterização do serviço de transplante cardíaco, em que é evidenciado o percurso que o paciente faz na instituição pesquisada; a divisão de tarefas e de equipes: trabalho prescrito versus o trabalho real, em que o trabalho prescrito se distancia das práticas reais dos profissionais em atividades oficiosas; os sentidos do trabalho, em que o trabalho tem valor social importante para o ser humano, exercendo influência na motivação, satisfação e produtividade dos trabalhadores; as competências adquiridas ou a formação profissional de trabalhadores no transplante cardíaco, em que a possibilidade de aprimorar os conhecimentos com a inclusão e a permanência dos indivíduos é uma das finalidades da formação profissional, na qual os ingredientes da competência auxiliam no esclarecimento da utilização da experiência nas dramáticas de si; e por fim, o sobretrabalho, a sobrecarga de um trabalho invisível, que surge do processo da globalização e flexibilização das atividades realizadas. O teletrabalho pode ser entendido como o momento em que o profissional de saúde faz uso das tecnologias de informação e comunicação fora do ambiente convencional de trabalho. Construir, fortalecer e valorizar os trabalhadores e trabalhadoras de saúde é de suma importância. Qualificar esses profissionais que atuam em transplante cardíaco pode melhorar o Sistema Nacional de Transplante. Os trabalhadores acabam por renormalizar as atividades de trabalho no transplante cardíaco mediante preenchimento de lacunas nas normas e atuando diante de normas oficiosas de trabalho, utilizando a experiência adquirida no serviço como forma de formação profissional.