Como matar aquilo que não morre? : a multidimensionalidade da morte como uma proposta de reinterpretação do morrer de pessoas trans no Brasil

Abstract

A presente Dissertação se lança aos estudos acerca de se pensar as possibilidades e diferentes perspectivas de morrer que atravessam as experiências de pessoas trans, ou seja, das múltiplas formas de se interpretar a morte de pessoas transexuais, transgêneros e travestis no Brasil, pensando-se a partir da tomada de violências letais e outras formas de violações de direitos que se manifestam contra os corpos e corporeidades dessa população. Para compreender esse fenômeno, a pesquisa primeiro se inclina a analisar como a invisibilidade desse grupo, diante o Estado que, ao deixar de registrar essas mortes, contribui para que não sejam pensadas políticas públicas e proteções legais que garantam o direito à vida, bem como o direito a memória, nesse ponto, tomando-se o registro dos homicídios como parte de um complexo processo de apagamento que culmina em mortes ocultas. Em seguida, almeja-se revelar como o perfil das vítimas, e em especial, as características de brutalização e destruição aos corpos são submetidos no contexto de uma violência transfóbica que não mata apenas o corpo. Por derradeiro, busca-se refletir como, mesmo após a morte, as violações e cerceamentos de direito de pessoas trans continuam a ser violados, observando que a perpetuação dessas violências poderia configurar novas narrativas do morrer de corpos trans. Para tanto, a metodologia que demonstrou melhor performance para a percepção dos resultados foi o estudo de casos, possibilitando um debruçar sobre as violências aqui estudadas. Optei por investigar e discorrer sobre três casos envolvendo mortes de pessoas trans: Matheusa Passareli, Quelly da Silva e Victória Jugnet, cujas escolhas se deram por eu captar, através das perquirições, os paradigmas que os envolviam e permitirem a propositura de respostas às perguntas suscitadas. Portanto, essa obra se encerra com a concepção de que na eventual multiplicidade de universos de violência letal, demanda-se o entendimento de que há outras novas materializações e significados, igualmente múltiplos, de uma rede discursiva em que essas mortes trans se inserem.