Narrativas de jovens egressos do sistema socioeducativo do Distrito Federal : trajetórias biográficas e perspectivas de futuro

Abstract

A presente tese situa-se na linha de pesquisa Estudos Comparados em Educação (ECOE), do Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), da Faculdade de Educação (FE), da Universidade de Brasília (UnB) e está vinculada ao Grupo de Pesquisas Gerações e Juventude (Geraju). Esta pesquisa insere-se no campo de estudos juventude e violência com destaque para a organização do sistema socioeducativo e as políticas públicas de escolarização para jovens que cumpriram medida socioeducativa de internação no Distrito Federal. Trata-se de um estudo que apresenta o objetivo geral de interpretar como jovens egressos do sistema socioeducativo narram suas trajetórias biográficas, considerando suas experiências anteriores à sentença de internação; no sistema socioeducativo, com ênfase na escola; e após a privação de liberdade, evidenciando suas perspectivas de futuro. A pesquisa de cunho qualitativo é subsidiada pela abordagem da pesquisa social reconstrutiva, pelo método documentário de interpretação e por entrevistas narrativas biográficas. As entrevistas narrativas foram realizadas com jovens do gênero masculino com idade entre 20 e 24 anos com diferentes tempos de experiências fora da medida socioeducativa de internação. A produção e reconstrução dos dados das entrevistas, foram transcritas, codificadas e analisadas com base no método documentário e na análise estrutural de narrativas. Assim, tivemos acesso, às experiências conjuntivas vivenciadas pelos sujeitos da pesquisa, contextualizadas em diferentes tempos e espaços, bem como a compreensão das orientações coletivas dos jovens muitas vezes silenciados e invisibilizados pelas condições do encarceramento. Com base na análise comparativa das entrevistas realizadas, os resultados da pesquisa evidenciam dois tipos, com orientações distintas e com visões de mundo diferenciadas sobre suas condições juvenis como egressos de unidades socioeducativas de internações do Distrito Federal. O primeiro tipo, apresenta uma orientação voltada para a elaboração de um novo sentido biográfico, busca se desconectar da vida no crime e se vincular aos estudos, ao trabalho formal e a uma perspectiva de futuro relacionada ao campo concreto, desenvolve estratégias de enfrentamento para se livrar da identidade de elemento suspeito. O segundo tipo, revela a ausência de novos sentidos biográficos, estruturada em uma perspectiva de futuro idílica. Em relação à escolarização na medida socioeducativa de internação, constatamos que os jovens internados foram sistematicamente silenciados em um ambiente repressor, um local onde qualquer gesto ou fala pode ser interpretado como transgressão, onde as consequências por qualquer desvio da conduta podem ser duras, e isso nos faz reafirmar a necessidade de uma escolarização humanizada para esses estudantes. Por essa razão, acreditamos e defendemos uma política pública de escolarização na socioeducação mais eficiente, eficaz e efetiva para retomar vínculos e contribuir para a reconstrução de trajetórias escolares.