Impacto indireto da Covid-19 sobre a força de trabalho em saúde nos hospitais universitários brasileiros

Abstract

No início de 2020, durante a pandemia COVID-19, a força de trabalho em saúde foi submetida a uma demanda explosiva e sobrecarga de trabalho, com riscos para adoecimento físico e mental. Objetivo: Avaliar o absenteísmo em trabalhadores de hospitais universitários públicos brasileiro por todas as causas, não diretamente atribuível à infecção suspeita ou confirmada de SARS-CoV-2, comparando com dados da mesma população em um período anterior ao evento da pandemia COVID-19. Métodos: Realizado estudo observacional longitudinal, com medidas repetidas, misto, parte prospectivo e parte retrospectivo do absenteísmo de trabalhadores de saúde de 40 hospitais universitários públicos brasileiros. O mesmo grupo de trabalhadores foi avaliado quanto aos tipos de absenteísmo no período pré pandemia (março a julho de 2019) e durante a pandemia (março a julho de 2020). Foram analisadas todas as causas do absenteísmo, não atribuídas diretamente à COVID-19, classificados em relacionados a saúde, administrativos, licenças familiares, acidentes ocupacionais. Incluíram-se os dados de absenteísmo de trabalhadores de saúde que estavam vinculados nos dois períodos de interesse e excluíram-se aqueles que estavam em somente um dos períodos. Resultados: Foram incluídos no estudo 32.691 trabalhadores – 70,3% mulheres, com idade média de 39,2 anos. A maioria dos trabalhadores eram técnicos de enfermagem (31,40%), seguidos por médicos (21,02%) e enfermeiros (17,04%). Houve redução de 27% no risco de ausência ao trabalho (não relacionada à COVID-19) no período pandemia para todas as causas (OR 0,73 [IC95% 0,71-0,76]), com exceção da ausência relacionada à adoecimento mental. Houve aumento de 39% no risco de afastamento por adoecimento mental no período pandemia (OR 1,39 [1,26-1,52]). O risco de afastamento do trabalho foi maior em mulheres. A categoria profissional que menos se afastou foi a de médicos. Conclusão: Houve uma redução geral do risco de absenteísmo por causas não relacionadas ao COVID-19 no início da pandemia, exceto para afastamento por doença mental, que aumentou nesse período. O achado representa o comprometimento dos profissionais de saúde com o enfrentamento da pandemia, mesmo com risco de adoecimento físico e mental.