Análise comparativa entre os resultados estéticos de cirurgia oncoplástica e reconstrução mamária total de acordo com o grau de satisfação das mulheres e dos médicos: estudo realizado em serviços brasileiros de mastologia

Abstract

Introdução: A satisfação da mulher após cirurgia de neoplasia mamária tem impacto na imagem corporal, função sexual, autoestima e qualidade de vida podendo diferir da percepção do médico assistente. Este estudo teve como objetivo comparar os resultados estéticos e a satisfação de cirurgiões e mulheres com tumores de mama em relação às cirurgias conservadoras com oncoplástica e à reconstrução mamária total. Métodos: Foram incluídas 760 mulheres com diagnóstico de carcinoma invasivo de mama ou tumores filoides que retornaram pelo menos 6 meses após a cirurgia ou radioterapia em dois hospitais públicos (Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Goiás e Hospital do Câncer Araújo Jorge) e uma clínica privada entre 2014 e 2022. Os dados foram coletados prospectivamente dos pacientes e retrospectivamente de seus prontuários por meio de formulário específico após obtenção do consentimento informado. Os resultados estéticos e a qualidade de vida foram avaliados por meio dos questionários BREAST-Q©, escala de Harris e software BCCT.core. Os dados foram avaliados utilizando o programa estatístico SPSS. A significância estatística foi estabelecida em p < 0,05. Este estudo foi aprovado pelo comitê de ética do hospital. Resultados: Foram incluídas 405 (53,29%) reconstruções parciais e 355 (46,71%) totais. As mulheres submetidas à reconstrução parcial eram mais velhas 56 anos (+/- 11.59) (p< 0,001) e apresentavam maior índice de massa corporal 26.67 (24.34 – 29.34) (p< 0,001). As mulheres submetidas à reconstrução total apresentavam tumores maiores 40 mm (25 – 55.50) (p< 0,001), com estádios clínicos (p< 0,001) e patológicos avançados (II e III) (p< 0,037). Complicações clínicas e cirúrgicas ocorreram com maior frequência no grupo de reconstrução total (p< 0,001). Um maior número de cirurgias reparadoras e procedimentos de lipofilling foram necessários para a reconstrução total (p< 0,01). De acordo com o BREAST- VIII Q, o grupo de reconstrução parcial apresentou níveis significativamente mais elevados de satisfação das mulheres com as mamas (p< 0,001), com os resultados cirúrgicos (p< 0,001), com o bem-estar psicossocial (p 0,049) e sexual (p 0,002), com o fornecimento de informações (p 0,001) e com o cirurgião reconstrutor (p 0,004). Apenas o bem-estar físico foi ligeiramente superior no grupo de reconstrução total (p 0,009). Os cirurgiões consideraram que as reconstruções parciais apresentaram melhores resultados do que as reconstruções totais sendo que, na maioria dos casos, foram classificados como bons ou excelentes. No entanto, essa diferença não foi percebida pelo software BCCT.core. Conclusão: As mulheres submetidas à reconstrução mamária parcial apresentaram maiores níveis de satisfação em diversos domínios, menor frequência de complicações e necessitaram de menos cirurgias para completar a reconstrução do que as mulheres submetidas à reconstrução total. Os cirurgiões também ficaram mais satisfeitos com os resultados das reconstruções parciais.