Mundos de vida em performances narrativas de crianças pequenas de escolas da infância do Distrito Federal

Abstract

Esta pesquisa tem como objetivo central compreender os mundos de vida de crianças pequenas por meio de suas próprias narrativas em instituições educativas do Distrito Federal, apoiada em uma abordagem interdisciplinar que articula saberes da Teoria Histórico-Cultural, da interface entre Estudos da Performance e Educação, e das Ciências Sociais da Infância. A pesquisa empírica foi realizada com quatro turmas de 2º período, compostas por crianças com faixa etária entre 5 e 6 anos, em quatro instituições públicas de Educação Infantil localizadas em regiões periféricas do Distrito Federal: Cidade Estrutural, Planaltina, Recanto das Emas e Riacho Fundo 2 durante o ano letivo de 2021, em meio à pandemia de Covid-19. O percurso metodológico foi trilhado a partir da etnografia performativa, por meio de práticas artístico-pedagógicas de mediação de leitura e contação de histórias em contexto virtual e presencial, com os seguintes instrumentos: observação participante, dinâmicas conversacionais, oficinas de histórias, oficinas de atividades lúdicas e registros escritos, pictóricos e em áudio da produção narrativa das crianças pequenas. A partir das performances narrativas das crianças foi produzido o livro Crianças Narradoras contendo 57 narrativas, categorizadas conforme os temas abordados nos eventos narrados por elas: histórias de morte, histórias de família, histórias de não-humanos, histórias de seres encantados, histórias de pobreza, histórias de heróis e heroínas e histórias de machucados. A indissociabilidade da expressão oral e da expressão corporal no ato de narrar, e a singularidade das estratégias utilizadas pelas crianças pequenas ao acessarem seu público, seja direcionando-se a uma pessoa em especial ou a todo o grupo, utilizando gestos, modulação na voz e expressões faciais distintas, foram princípios performativos elencados nos eventos narrativos analisados. Os relatos das crianças pequenas evidenciam seus mundos de vida como prática performativa na escola da infância, pois, ao terem espaços e tempos assegurados para narrar, há um reconhecimento da potência criadora da autoria narrativa infantil. Isso se configura como uma possibilidade de interlocução estética entre adultos e crianças, diminuindo as hierarquias intergeracionais ao aproximar os contextos vivenciados, as múltiplas infâncias, e os mundos de vida através das singulares formas em que as crianças pequenas performam as palavras narradas na escola da infância.