O que muda nas orientações para a prática do cirurgião-dentista com a Pandemia de Covid-19?

Abstract

Introdução: Com a pandemia da COVID-19, as normas e técnicas vigentes em diversos campos profissionais – incluindo a odontologia – entraram em cheque. A rotina foi alterada em diversos níveis gerando necessidade de atualizações adequadas à nova situação sanitária. À medida que se obtinha dados a respeito do vírus SARS-CoV-2, até então desconhecido, e da doença que ele causa, foi possível produzir informações confiáveis e essas passaram a orientar as atividades das pessoas mundo afora, inclusive dos profissionais de saúde. Dentre esses, os cirurgiões-dentistas (CD) considerados os que estavam expostos aos maiores riscos de contaminação à COVID-19. Objetivo: Analisar os reflexos da pandemia nas orientações para a prática do cirurgião-dentista. Método: Pesquisa qualitativa do tipo análise documental em fontes primárias. Dados foram obtidos em legislações em sentido genérico entendido neste estudo as comunicações oficiais de governos, organizações e seus representantes, tais como portarias, ofícios, notas técnicas, decisões, cartilhas, notas públicas, recomendações, termos de cooperação técnica, resoluções, planos de contingência, decretos e leis. Foram incluídos documentos que continham orientações para o trabalho dos cirurgiões-dentistas no contexto da pandemia de COVID-19, publicados no período compreendido entre 01/01/2020 e 28/02/2021 de dez sítios eletrônicos de instituições federais, do Distrito Federal e de uma instituição internacional. Resultados: Os 61 documentos analisados continham sobretudo orientações sobre biossegurança, suspenção dos atendimentos eletivos e coletivos, discricionariedade do profissional para atuar em novas modalidades de serviços odontológicos. Foram dirigidas aos profissionais do setor público e privado, o foco central era o atendimento clínico odontológico, havendo também orientações para ações situadas no campo de atuação multiprofissional. As informações, saberes e conhecimentos ao longo do período estudado foram se acumulando e refinando, refletindo em constantes atualizações. Conclusão: Conclui-se que na pandemia o cirurgião-dentista teve seu trabalho modificado pela renovação da biossegurança e foi impulsionado para a atuação em lugares antes pouco ou inexplorados como adequados para o CD trabalhar. As publicações parecem ter contribuído para a melhor estruturação do atendimento clínico individual, com destaque para a biossegurança e para a inserção do cirurgião dentista em novos campos de atuação. Entretanto, ao dar pouca ênfase ao campo de atuação da atenção primária a saúde, pode ter reforçado o isolamento do CD nesse segmento. Percebe-se o desenvolvimento de novos protocolos, técnicas, instrumentais, equipamentos, inovações que permitem o atendimento seguro e adequado dos pacientes, incluindo-se o olhar interno da adequação dos consultórios, clínicas, universidades e cursos, as possibilidades de atuação com enfoque multidisciplinar desses profissionais. É possível o CD atender com qualidade a demanda reprimida atual. A pandemia trouxe mudanças que geraram novas orientações de trabalho e essas por sua vez geraram reflexos na prática do CD. As orientações de um modo geral tiveram um enfoque mais clínico. A APS por contemplar atendimentos coletivos tais como palestras, escovação assistida, visitas domiciliares sofreu perdas com o estreitamento de atuação do CD pela suspensão dos atendimentos eletivos e coletivos. Os reflexos representam o aumento da demanda reprimida odontológica, ganho de qualidade com uma biossegurança renovada, novos protocolos de trabalho, ampliação dos espaços de trabalho, produção científica ampliada.