Estado inflamatório, índices metabólicos e força muscular de idosos com Diabetes mellitus na atenção primária em saúde

Abstract

Introdução: O diabetes mellitus (DM) é uma doença crônica prevalente no idoso que tem sido associada a um pior desempenho físico e diminuição da força muscular (FM). No enve-lhecimento os fatores determinantes da FM têm causas conhecidas, porém algumas ainda não são esclarecidas, como a relação da FM com parâmetros antropométricos, metabólicos e in-flamatórios. Objetivo: Analisar a relação da composição corporal, índices antropométricos, metabólicos e inflamatórios com a força muscular em idosos com diabetes mellitus tipo 2 na atenção primária em saúde. Método: Estudo descritivo, quantitativo e transversal, realizado em uma Unidade Básica de Saúde do Distrito Federal com 138 idosos com idade ≥ 60 anos, de ambos os sexos, portadores de DM tipo 2. Foram realizadas as seguintes avaliações: coleta de sangue em jejum, instrumento de caracterizações sociodemográficas, clínicas, hábitos de vida, atividade física (IPAQ) e aspecto cognitivo (MEEM); avaliação da FM por meio do teste de Força de Preensão Manual (FPM), desempenho físico; dados antropométricos e composi-ção corporal. A prevalência de sarcopenia e excesso de peso foram determinadas. Foram ana-lisados os índices antropométricos: Razão Cintura Estatura (RCE) e Índice de massa corporal + circunferência da cintura (IMC+CC); os marcadores inflamatórios e citocinas Tumor Ne-crosis Factor – alpha (TNF-α), interleucina-2 (IL-2), interleucina-6 (IL-6) e interleucina-10 (IL- 10) e razão plaquetas / linfócitos (RPL). O estado pró-inflamatório foi definido de acordo com a mediana do TNF-α. A análise estatística foi realizada no SPSS versão 25.0. Para variá-veis paramétricas utilizou-se os testes t e ANOVA para comparação de médias, coeficiente de correlação de Pearson; e quando não verificada normalidade, os testes U de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis, e correlação de Spearman. Para o modelo preditivo da força muscular absolu-ta (FMA), utilizou-se teste de regressão linear múltipla (método Stepwise Backward), conside-rando os coeficientes de correlação linear (r) e de determinação múltiplo (R²) dos modelos. Resultados: A maioria da amostra foi do sexo feminino (66,7%), entre 60 e 69 anos (64,50%), casados (59,42%), com 1 a 8 anos de estudos (65,22%), renda mensal de 1 salário mínimo (39,86%), aposentados (57,97%), ativos em trabalho (18,12%), 84,78% tinham hiper-tensão arterial sistêmica (HAS) e 57,25% eram irregularmente ativos/ sedentários. Excesso de peso foi verificado em 64,49% dos idosos e 84,06% apresentaram percentual de gordura alte-rado, com prevalência de sarcopenia de 10,14%. A FMA e Força Muscular Relativa (FMR) associaram-se positivamente com a razão TG/HDL (s = 0,177; p = 0,038; s = 0,168; p = 0,048, respectivamente), enquanto o índice TyG-IMC apresentou correlação negativa com a FMR (s = -0,299; p < 0,001). A FMA e FMR correlacionaram-se negativamente com IL-6 (s = -0,206; p = 0,015; s= -0,090; p = 0,026, respectivamente) e com a RPL (s = -0,246; p = 0,004; -0,291; p = 0,005, respectivamente). Menor FMA (p = 0,040) e FMR (p = 0,048) foram verificadas nos homens com alto estado pró-inflamatório. Mulheres com alto estado pró-inflamatório tiveram menor HDL (p = 0,002) e IL-6 (p = 0,018), maior índice de adiposidade visceral (IAV) (p=0,020) e razão TG/HDL (p = 0,013). Homens com alto estado pró-inflamatório apresentaram maiores níveis de IL-2 (p=0,014). O modelo final da regressão indicou 66,4% (R² = 0,664) da variação da FMA, sendo que a RCE diminuiu a FMA dos ido-sos em 41,05% (β = -0,193; t = -3,702; p < 0,001), e a RPL em 11,33% (β = -0,121; t = -2,362; p = 0,020). Já o sexo masculino aumentou a FMA em 10,64% (β = 0,326; t = 4,158; p < 0,001) e a MM em 0,89% (β = 0,466; t = 6,029; p < 0,001). Conclusões: A RCE e RPL previram uma diminuição, enquanto que o sexo masculino e a MM um aumento da FMA. Esses resultados beneficiam a prática profissional na atenção primária em saúde ao propor a utilização de marcadores de fácil utilização, como medidas de rastreio da variação da FMA em idosos com DM tipo 2, para identificação precoce e possível atuação na gestão dos fatores relacionados à diminuição da FM.