Efetividade da técnica de infiltração resinosa na redução da hipersensibilidade dentária e da ocorrência de fraturas pós-eruptivas associadas à hipomineralização molar-incisivo (HMI)

Abstract

Introdução: A hipomineralização molar-incisivo (HMI) é um defeito de desenvolvimento do esmalte qualitativo e que traz diversos desafios quanto ao manejo clínico em virtude das particularidades estruturais e químicas dos dentes acometidos. A elevada porosidade do esmalte hipomineralizado associada aos esforços mastigatórios podem ocasionar fraturas pós eruptivas (FPEs), as quais favorecem o acúmulo de biofilme e, consequentemente, o desenvolvimento de lesões de cárie. Também é possível que pacientes reportem hipersensibilidade dentária (HD) perante estímulos térmicos e/ou mecânicos, mesmo quando ainda não existe desintegração do esmalte. Objetivo: Avaliar a efetividade do infiltarante resinoso, selante ionomérico e verniz fluoretado na redução das FPEs e da HD em molares permanentes afetados pela HMI. Métodos: A amostra foi extraída de um levantamento epidemiológico realizado em 6 escolas públicas no Paranoá/DF, Brasil. Após triagem inicial, crianças que possuíam ao menos um primeiro molar permanente afetado pela HMI, passaram por um exame clínico detalhado para avaliação de cárie e HMI, utilizando-se os critérios Nyvad e Molar Incisor Hypomineralization - severity scoring system (MIH-SSS), respectivamente. Também foi realizada a avaliação da HD ao jato de ar e a um estímulo táctil, por meio das escalas Shiff cold air sensitivity scale (SCASS) e visual analógica (EVA). Na sequência, molares com HMI sem FPE foram randomizados de acordo com a cor (branca x amarela) e a localização (superfície livre x oclusal) da opacidade, e alocados nos seguintes grupos de tratamento: infiltrante resinoso (teste) e verniz de flúor/selante ionomérico (controle). Seis meses após a implementação dos tratamentos, nova avaliação utilizando-se os critérios Nyvad e MIH-SSS foi realizada. Para a análise da intensidade dolorosa por meio da escala EVA, foram empregados modelos lineares com efeitos mistos e interceptos aleatórios, em que as unidades de análise (dentes) foram aninhados em agrupamentos (pacientes). Para a análise da reação dos voluntários por meio da escala SCASS, os modelos empregados foram lineares mistos generalizados com logito cumulativo de intercepetos aleatórios. Foram calculados os valores de log odds, para prever a probabilidade de fratura versus não fratura por tipo de tratamento, posição do dente e superfície na qual a opacidade estava localizada. Resultados: Um total de 46 molares foram tratados em 26 crianças com idade média 8,15 anos (±0,79). Foram reavaliados 41 dentes, sendo que aqueles que receberam infiltrante apresentaram log de chance de não fraturarem no período de 6 meses em média 3,13 (±1,13) vezes maior do que dentes selados e que receberam verniz de flúor (p=0,012). Molares de crianças com atividade de cárie apresentam uma chance de fratura 21 vezes maior que aquelas sem cárie ativa no baseline (OR=21,26; IC 95 2,20-205,26; p=0,0082). Não foi observada associação significativa entre cor ou localização da opacidade e ocorrência de fratura. Quanto à HD, os valores médios de intensidade dolorosa tanto ao estímulo de ar quanto à sondagem foram significativamente maiores no grupo controle em comparação ao grupo teste no baseline (p=0,0091; p=0,0460), no pós-imediato (p=0,0134; p=0,3356) e aos 6 meses (p=0,0043; p=0,0570), respectivamente. Aos 6 meses, a chance de pacientes do grupo teste estarem numa categoria de baixo estímulo de dor foi aproximadamente duas vezes a chance daqueles do grupo controle, em comparação ao baseline (OR=2,24; p=0.,355). Conclusão: O infiltrante resinoso foi efetivo na redução de FPEs e da HD em molares afetados pela HMI após 6 meses de acompanhamento. Tempo de seguimento maior é necessário para avaliar efeitos de longo prazo.