A telessimulação como estratégia de ensino para o cuidado à criança com estomia intestinal

Abstract

A realização de uma estomia intestinal constitui-se em recurso de tratamento de diversas doenças, podendo ocorrer em populações distintas e exigindo cuidado especializado. Na criança esse processo possui singularidade especial por tratar-se de um ser dependente e em contínua evolução, o que infere a necessidade de habilidades técnicas e não técnicas no cuidado por parte dos profissionais de saúde, devendo ser iniciado esse contato na graduação. Nesse contexto, a simulação clínica e seus segmentos apresenta-se como uma ferramenta metodológica ativa para o processo de ensino e aprendizagem no cuidado a essa população. Um desses segmentos é a telessimulação, que tem se mostrado promissora opção para o ensino simulado em saúde quando há impossibilidade na realização da simulação convencional. O objetivo do estudo foi investigar a utilização da telessimulação enquanto estratégia de ensino a estudantes da graduação em enfermagem para o cuidado à criança com estomia intestinal. Trata-se de um estudo prospectivo, com abordagem mista sequencial, desenvolvido com estudantes de enfermagem. A primeira fase do estudo envolveu a validação de um cenário por telessimulação. Posterior a validação ocorreu a coleta de dados em etapas distintas, todas realizadas por plataforma virtual eletrônica: a) ministração de aula teórica sobre os cuidados de enfermagem à criança com estomia intestinal e preenchimento do Formulário de Análise do Caso Clínico; b) telessimulação e preenchimento das escalas de Experiência com o Debriefing, escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem e do Formulário de Análise do Caso Clínico; c) entrevista em grupo. A análise ocorreu estatisticamente por meio de tabelas de frequência para os dados quantitativos e utilização do programa MAXQDA e estudo temático do conteúdo nos achados qualitativos. Como resultado inicial o cenário foi validado e obteve do Índice de Validade de Conteúdo de 88%. Participaram da pesquisa 31 estudantes de ambos os sexos, matriculados entre o quarto e oitavo semestres da graduação em enfermagem. A análise da Escala de Satisfação dos Estudantes e Autoconfiança na Aprendizagem teve escore de forte concordância para os dois domínios, variando entre 70,97% a 100% para o domínio satisfação e 32,26 % a 93,55% para o domínio autoconfiança. Na Escala de Experiência com o Debriefing os estudantes concordaram fortemente com as afirmações dos quatro domínios, com escore de forte concordância variante entre 48,28% a 93,55%. A partir da análise do Formulário de Reconhecimento do Caso Clínico foi averiguado que os após a telessimulação ocorreu aumento da concordância (41,94%) e forte concordância (54,84%) quanto a afirmativa que discorre sobre a criança apresentar dermatite irritativa. Também ocorreu índice de concordância quanto a necessidade de aplicação de adjuvante durante o cuidado com a pele, sendo a afirmação da resina em pó a com maior índice (67,74%). Após a análise das entrevistas foram agrupadas quatro categorias temáticas finais: percepções dos estudantes sobre a cena transmitida na telessimulação, pontos positivos da telessimulação para a aprendizagem, pontos negativos averiguados pelos estudantes sobre a telessimulação e ganhos percebidos com a telessimulação. O estudo constatou satisfação e autoconfiança dos estudantes com a aprendizagem telessimulada, confiança com o domínio de conteúdo assimilado e boa experiência dos estudantes com o debriefing. Observou-se aumento significativo da compreensão do caso clínico após a telessimulação. A telessimulação foi considerada realística, útil para a interação dos estudantes com a temática estomia intestinal em criança e produziu ganhos aos estudantes. Foram evidenciadas limitações e condições que dificultaram o processo de aprendizagem como oscilações na internet e a impossibilidade de manusear presencialmente o manequim e adjuvantes apresentados.