Caracterização eletrofisiológica de neurônios do córtex pré-frontal e hipocampo sob bloqueiofarmacológico de receptor NMDA

Abstract

A esquizofrenia é um distúrbio que acomete aproximadamente 1% da população mundial, e sua manifestação heterogênea de sintomas incluem episódios psicóticos, delírios, alucinações, apatia, anedonia, além de déficits cognitivos nos domínios de memória, controle executivo e linguagem. O desenvolvimento da esquizofrenia é o resultado de interações cumulativas entre variados fatores de risco genéticos e ambientais, o que dificulta os esforços para entender sua fisiopatologia. Alterações na neurotransmissão de dopamina, glutamato e ácido gama-aminobutírico (GABA) constituem a base de distúrbios fisiológicas em pacientes com esquizofrenia. Testes farmacológicos realizados com antagonistas do receptor N-metil-D-aspartato (NMDAr) resultaram na hipótese de que a hipofunção de receptores NMDA em interneurônios GABAérgicos dariam origem aos sintomas apresentados. Essa hipótese tem possibilitado a compreensão dos microcircuitos corticais na esquizofrenia, e a identificação de biomarcadores do distúrbio. Dado o envolvimento de oscilações neurais na execução de tarefas cognitivas e a correlação entre a deficiência de conectividade cerebral e os prejuízos apresentados por pacientes e em modelos animais deste transtorno, faz-se mister a caracterização dos padrões de atividade neural oscilatória para a melhoria do diagnóstico e tratamento da esquizofrenia. O presente estudo se propôs a estabelecer em nosso laboratório um protocolo cirúrgico de implante crônico de eletrodos intracerebrais de profundidade e coleta de dados eletrofisiológicos. Foram examinados os registros do potencial de campo local no córtex pré-frontal e hipocampo de 10 ratos Wistar sob o efeito sistêmico de quetamina (QUET; 25 mg/kg; i.p.) e dizocilpina (MK-801; 0,1 mg/kg; i.p.), juntamente com o comportamento locomotor. A QUET aumentou a distância percorrida pelos animais no Campo Aberto e o poder relativo das bandas gama e teta no hipocampo e córtex préfrontal. A dose de MK-801 não foi suficiente para alterar o padrão de locomoção e tampouco oscilações nas frequências avaliadas. Os dados encontrados reforçam a associação entre modelos de bloqueio farmacológico de receptor NMDA e alterações comportamentais e na atividade elétrica cerebral.