Aspectos ecoepidemiológicos da vigilância de primatas não humanos e febre amarela no Distrito Federal

Abstract

Febre amarela (FA) é uma doença infecciosa febril aguda e causada por um flavivírus. Ela se mantém como importante ameaça à saúde pública, dado o elevado potencial epidêmico, principalmente em áreas com populações não vacinadas e densamente povoadas. É uma doença imunoprevinível e, atualmente, a vacinação é recomendada em todo o território nacional. Ainda assim, historicamente são registrados surtos recorrentes, com extensão e magnitude variáveis e alta letalidade para as formas grave. A FA se mantém na natureza por meio da transmissão entre primatas não humanos (PNH) e mosquitos silvestres (Haemagogus; Sabethes). Os PNHs são os principais hospedeiros do vírus e constituem “sentinelas” na vigilância da doença. No Brasil, a vigilância de epizootias em PNHs iniciou seus registros em 1999 e, a partir de 2006, a morte ou adoecimentos de PNHs passou a ser de notificação compulsória, em todo território nacional. No Distrito Federal, a vigilância de PNHs teve início em 2008, durante surto de FA. Esse estudo buscou descrever e analisar o perfil ecoepidemiológico da vigilância passiva da morte de PNHs notificadas à Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal (SES-DF), entre 2008 e 2022. Para captação dos dados, foram utilizadas a Ficha de Notificação de Epizootia do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e a planilha de notificação da Gerência de Vigilância Ambiental de Zoonoses (GVAZ/ SES-DF). No período, foram notificadas 1.175 epizootias de PNHs no DF, envolvendo 1.353 animais. As notificações foram investigadas e as amostras coletadas foram encaminhadas aos laboratórios de referência do Ministério da Saúde, para diagnóstico laboratorial. Do total de notificações, 20 (1,7%) foram confirmadas para febre amarela, em três períodos epizoóticos distintos: 2008 (casos humanos, PNHs e vetores confirmados); 2015 e 2020 (PNHs confirmados). Do total, 85,2% dos animais eram do gênero Callithrix (23/27), 66,7% adultos (18/27), e 70% (14/20) das epizootias confirmadas para FA ocorreram nos meses de setembro e outubro. A intensificação das ações de vigilância, a interlocução entre equipes multidisciplinares, o fortalecimento e aprimoramento das relações interinstitucionais (saúde, órgãos ambientais, polícia militar ambiental, Emater, Seagri etc.) são fundamentais para o aperfeiçoamento da vigilância em saúde. As informações sobre a ecoepidemiologia da morte de PNHs, e a consolidação da notificação de epizootias em primatas, potencializa a vigilância como instrumento de prevenção de casos humanos da doença no DF.