http://repositorio.unb.br/handle/10482/51572
Arquivo | Tamanho | Formato | |
---|---|---|---|
FernandaLimaDaSilva_TESE.pdf | 2,93 MB | Adobe PDF | Visualizar/Abrir |
Título: | O estranho e o ordinário : um contra arquivo da cidadania e o constitucionalismo brasileiro (Pernambuco, 1870-1920) |
Autor(es): | Silva, Fernanda Lima da |
Orientador(es): | Prando, Camila Cardoso de Mello |
Assunto: | Cidadania Constitucionalismo brasileiro Cultura Festas populares Racismo |
Data de publicação: | 12-Fev-2025 |
Data de defesa: | 13-Dez-2024 |
Referência: | SILVA, Fernanda Lima da. O ESTRANHO E O ORDINÁRIO: um contra arquivo da cidadania e o constitucionalismo brasileiro (Pernambuco, 1870-1920). 2024. 325 f. Tese (Doutorado em Direito) — Universidade de Brasília, Brasília, 2024. |
Resumo: | Esta tese investiga as disputas por cidadania levadas a cabo por mulheres e homens comuns, buscando, a partir daí, lançar perguntas à doxa do constitucionalismo brasileiro, isto é, ao senso comum teórico que informa como o campo imagina e representa a cultura jurídica nacional. Buscou-se produzir um contra arquivo da cidadania, isto é, um arquivo que disputasse uma outra memória da cidadania no Brasil. Para tanto, tomando festas, brinquedos e divertimentos populares como dispositivo estabeleceu-se um “jogo metodológico” a partir do qual foram acessados e postos em relação diferentes sujeitos e cenas arquivados em jornais, processos judiciais, documentos policiais, textos de folcloristas e memorialistas, entre outros documentos. Apostou-se na festa como dispositivo pelo seu potencial de conduzir a espaços tradicionalmente não visitados pela história do direito e pelo constitucionalismo brasileiros. A partir dos recortes da vida cotidiana assim capturados, foram analisados modos de enfrentamento à precariedade estrutural a que estavam submetidos estes homens e mulheres. Foram eleitos cinco elementos para pensar a cidadania: igualdade, espaço, voto, trabalho e povo. As reflexões sobre igualdade atravessam todo o trabalho e são significadas sobretudo na análise do discurso sobre a experiência da exclusão como estruturante do “problema da cidadania” no país. A discussão sobre espaço, constante do primeiro capítulo, é proposta a partir de uma rediscussão da dicotomia público e privado, oportunizada pelos modos como casa e rua são construídas por Gilberto Freyre, mas também pelos interlocutores da pesquisa. O segundo capítulo enfrenta a ideia de que o direito ao voto teria, historicamente, sido pouco ou fragilmente exercido pelo povo, alijado das instâncias deliberativas. Para tanto, acompanha dois homens reputados como “brabos” e “capangas” e sua participação nas eleições de 1884 em Recife. Outros sujeitos, representados como “vadios” e “desordeiros”, em seus passeios entre os mundos, aqui vistos como borrados, da ordem e da desordem, nos fornecem subsídios para pensar, no terceiro capítulo, a construção dos mundos do trabalho desde léxicos que nem sempre reproduzem formas “consagradas” de organização como sindicatos e partidos políticos. O quarto capítulo, se propõe a pensar a ideia de povo, dimensão assumida, mas raramente enfrentada pelos constitucionalistas. Para isso, retorna ao diálogo com Freyre observando como festa e cozinha fornecem elementos importantes para a construção do argumento do autor sobre a fundação nacional. A ideia freyreana de “encontro” de raças é explorada a partir da violência sobre os corpos de mulheres negras e indígenas que engendra. Concentrando-se em cenas de arquivo do fim do século XIX e início do século XX em Pernambuco, o trabalho as contrapõe a outras, contemporâneas, oportunizadas pelos brinquedos populares. Essa temporalidade espiralar busca explorar as dinâmicas da vida póstuma da escravidão que condicionam as relações entre a negação da memória do morto e a negação da cidadania dos vivos. |
Abstract: | This thesis investigates the disputes over citizenship carried out by ordinary women and men, aiming to pose questions to the doxa of Brazilian constitutionalism, that is, to the theoretical common sense that informs how the field imagines and represents national legal culture. The goal was to create a counter-archive of citizenship, that is, an archive that challenges a different memory of citizenship in Brazil. To this end, using popular festitivies, toys, and amusements as a device, a "methodological game" was established, through which various subjects and scenes were accessed and related, archived in newspapers, legal processes, police documents, texts by folklorists and memoirists, among other sources. The festivities were chosen as a device due to its potential to lead to spaces traditionally not explored by the history of law and Brazilian constitutionalism. Based on the snapshots of everyday life thus captured, the study analyzed ways of facing the structural precariousness to which these men and women were subjected. Five elements were selected to think about citizenship: equality, space, voting, work, and people. Reflections on equality run throughout the work, particularly in the analysis of discourse about the experience of exclusion as a fundamental aspect of "the problem of citizenship" in the country. The discussion of space, present in the first chapter, is proposed through a re-examination of the public-private dichotomy, made possible by the ways in which Gilberto Freyre constructs house and street, but also by the interlocutors in the research. The second chapter addresses the idea that the right to vote has historically been weakly or poorly exercised by the people, excluded from deliberative instances. To this end, it follows two men described as "brutes" and "thugs" and their participation in the 1884 elections in Recife. Other subjects, represented as "vagrants" and "troublemakers," in their movements between the worlds, here seen as blurred, of order and disorder, provide insights for thinking, in the third chapter, about the construction of the worlds of work through lexicons that do not always reproduce "established" forms of organization, such as trade unions and political parties. The fourth chapter seeks to reflect on the idea of the people, a dimension that is assumed but rarely confronted by constitutionalists. For this, it returns to a dialogue with Freyre, observing how festival and kitchen provide important elements for the construction of the author's argument about the national foundation. Freyre’s idea of the "encounter" of races is explored through the violence against the bodies of Black and Indigenous women that it engenders. Focusing on archival scenes from the late 19th and early 20th centuries in Pernambuco, the work contrasts them with more contemporary scenes offered by popular toys. This spiraling temporality seeks to explore the dynamics of the posthumous life of slavery that shape relations between the denial of the memory of the dead and the denial of citizenship for the living. |
Résumé: | Cette thèse examine les luttes pour la citoyenneté menées par des femmes et des hommes ordinaires, cherchant ainsi à poser des questions à la doxa du constitutionnalisme brésilien, c’està-dire au sens commun théorique qui façonne la manière dont le domaine imagine et représente la culture juridique nationale. L’objectif était de créer un contre-archive de la citoyenneté, c'est-à-dire un archive qui remette en question une autre mémoire de la citoyenneté au Brésil. Pour ce faire, en prenant les fêtes, les jouets et les divertissements populaires comme dispositifs, un « jeu méthodologique » a été établi, à partir duquel différents sujets et scènes ont été accédés et mis en relation, archivés dans des journaux, des procès judiciaires, des documents policiers, des textes de folkloristes et de mémorialistes, parmi d'autres documents. La fête a été choisie comme dispositif en raison de son potentiel à conduire à des espaces traditionnellement non explorés par l’histoire du droit et du constitutionnalisme brésiliens. À partir des extraits de la vie quotidienne ainsi capturés, ont été analysées les manières de faire face à la précarité structurelle à laquelle ces hommes et femmes étaient soumis. Cinq éléments ont été choisis pour réfléchir à la citoyenneté: égalité, espace, vote, travail et peuple. Les réflexions sur l’égalité traversent l’ensemble du travail et sont signifiées principalement dans l’analyse du discours sur l’expérience de l’exclusion comme structurant du « problème de la citoyenneté » dans le pays. La discussion sur l’espace, présente dans le premier chapitre, est proposée à travers une rediscussion de la dichotomie public/privé, rendue possible par la manière dont la maison et la rue sont construites par Gilberto Freyre, mais aussi par les interlocuteurs de la recherche. Le deuxième chapitre aborde l’idée que le droit de vote aurait historiquement été peu ou faiblement exercé par le peuple, exclu des instances délibératives. À cette fin, il suit deux hommes réputés comme « brutes » et « gardes du corps » et leur participation aux élections de 1884 à Recife. D’autres sujets, représentés comme « vagabonds » et « perturbateurs », dans leurs déplacements entre les mondes, ici vus comme flous, de l’ordre et du désordre, nous fournissent des éléments pour réfléchir, dans le troisième chapitre, à la construction des mondes du travail à partir de lexiques qui ne reproduisent pas toujours les formes « consacrées » d’organisation comme les syndicats et les partis politiques. Le quatrième chapitre propose de réfléchir à l’idée de peuple, une dimension assumée mais rarement abordée par les constitutionnalistes. Pour ce faire, il revient au dialogue avec Freyre en observant comment la fête et la cuisine fournissent des éléments importants pour la construction de l’argument de l’auteur sur la fondation nationale. L’idée freyréenne de « rencontre » des races est explorée à partir de la violence sur les corps des femmes noires et indigènes qu’elle engendre. En se concentrant sur des scènes d’archives de la fin du XIXe et du début du XXe siècle à Pernambuco, le travail les confronte à d’autres scènes contemporaines, fournies par les jouets populaires. Cette temporalité spiralée cherche à explorer les dynamiques de la vie posthume de l’esclavage qui conditionnent les relations entre la négation de la mémoire des morts et la négation de la citoyenneté des vivants. |
Unidade Acadêmica: | Faculdade de Direito (FD) |
Programa de pós-graduação: | Programa de Pós-Graduação em Direito |
Licença: | A concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições: Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.unb.br, www.ibict.br, www.ndltd.org sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra supracitada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data. |
Aparece nas coleções: | Teses, dissertações e produtos pós-doutorado |
Os itens no repositório estão protegidos por copyright, com todos os direitos reservados, salvo quando é indicado o contrário.