Aspectos epidemiológicos, clínicos e econômicos de indivíduos com feridas crônicas e tratados na estomaterapia do Hospital Universitário de Brasília entre 2014 e 2020

Abstract

INTRODUÇÃO: As feridas são definidas como crônicas quando não passaram por uma reparação ordenada e oportuna para produzir integridade anatômica e funcional após 3 meses. A prevalência de feridas e úlceras crônicas está aumentando globalmente, afetando cerca de 1% da população mundial, mas apesar dessas lesões serem consideradas um problema de saúde pública, pesquisas sobre o perfil dos indivíduos acometidos na população brasileira ainda são incipientes. Assim, esse estudo buscou determinar o perfil dos indivíduos com lesões crônicas e atendidos no Ambulatório de Estomaterapia num centro de referência entre 2014 e 2020. INDIVÍDUOS E MÉTODO: Trata-se de estudo descritivo e retrospectivo desenvolvido no Serviço Ambulatorial de Enfermagem em Estomaterapia (SAEE) do Hospital Universitário de Brasília, com pessoas com lesões cutâneas de diferentes etiologias. Para o levantamento utilizou-se os prontuários dos pacientes e na sequência os dados epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. Os tipos e o custo dos materiais utilizados nos tratamentos foram coletados, tabulados, organizados e agrupados para a descrição e análise dos resultados. RESULTADOS: Foram tratados 226 indivíduos com lesões cutâneas (198 cronificadas). Perfil epidemiológico: os indivíduos eram adultos entre 21 a 59 anos (Fem = 75 ; Mas = 50) e idosos de 60 a 94 anos (Fem = 61; Mas = 40), predominantemente residentes no Distrito Federal (85%) e do sexo feminino (60%), com ensino fundamental completo (EFC) ou incompleto (EFI) (59%), casados (49%) ou solteiros (30%), com renda familiar declarada predominantemente, de 207 a 622 dólares/mensais (86%), pardos (65%), brancos (23%) ou pretos (8%), não fumantes (74%), não etilistas (81%) e sedentários (88%). Perfil clínico: a) o total de lesões foi similar entre mulheres e homens, com maior proporção de lesões únicas (70%), localizadas predominantemente nos membros inferiores em ambos os sexos (80%), sendo a estase venosa a principal c a u s a etiológica (47%); b) 52% dos indivíduos tiveram o desfecho clínico/cura sem a cronificação das feridas (até 6 meses), 33% foram tratados até 2 anos e 14% até 5 anos; c) 32% dos homens e 54% das mulheres tinham no mínimo uma comorbidade, 36% dos homens e 51% das mulheres cronificaram e 35% dos homens e 52% das mulheres cicatrizaram suas feridas; d) Quanto à morfologia, as feridas eram pequenas (até 5 cm2), bordas irregulares, contraídas, aderidas e hidratadas com quantidades variáveis de exsudato seroso ou purulento, sem ou com odores característicos (50%) ou também fétidos (50%) e 50% delas eram contaminadas por bactérias dos gêneros Enterobacter, Proteus, Pseudomonas, Staphylocaccus; Perfil econômico: o custo total com tratamentos/indivíduo atingiu US$ 434,918.68, sendo 82% destinados para as feridas de origem vascular, seguido pelas infecciosas (6%), neuropáticas (5%) e de outras origens (7%). CONCLUSÃO: No conjunto, os resultados epidemiológicos, clínicos e do custo do tratamento/indivíduo apontaram para o desenvolvimento/aprimoramento dos protocolos de tratamento e na implantação de práticas assistenciais sistematizadas relacionadas às etiologias das lesões, visando a favorecer o desfecho clínico, diminuir o tempo de retenção, aumentar a eficiência no fluxo dos indivíduos em tratamento, e promover novos atendimentos. Em acréscimo, esse estudo pode embasar a formação e atualização dos profissionais de saúde, sobretudo da enfermagem, visando a promover a melhor compreensão da evolução das feridas crônicas, estimular as melhores práticas em estomaterapia e embasar novos estudos com foco na prevenção de lesões cutâneas, nos cuidados com a pele e a identificação precoce de fatores de risco.