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Título: Áreas de preservação permanente como corredores ecológicos para a fauna de mamíferos de médio e grande porte no sul da Amazônia
Autor(es): Zimbres, Barbara de Queiroz Carvalho
Orientador(es): Machado, Ricardo Bomfim
Coorientador(es): Peres, Carlos
Assunto: Área de preservação permanente (APP)
Matas ripárias
Florestas - legislação
Corredor ecológico
Paisagens
Data de publicação: 25-Jan-2017
Referência: ZIMBRES, Barbara de Queiroz Carvalho. Áreas de preservação permanente como corredores ecológicos para a fauna de mamíferos de médio e grande porte no sul da Amazônia. 2016. viii, 119 f., il. Tese (Doutorado em Zoologia) — Universidade de Brasília, Brasília, 2016.
Resumo: A conectividade de uma paisagem é um dos fatores determinantes da viabilidade de populações animais, frente aos efeitos da perda e fragmentação do hábitat. Os corredores ecológicos são uma das estratégias defendidas para se manter a conectividade de uma paisagem fragmentada. No Brasil, a manutenção de áreas de preservação permanente (APP) ao longo de cursos d‘água, é prevista com o objetivo primário de preservar os recursos hídricos, mas as mesmas apresentam o potencial de funcionar como um elemento de conexão ubíquo em toda a paisagem. Nesta visão, elas funcionariam como corredores ecológicos. No entanto, é necessário compreender quais fatores estão envolvidos na utilização efetiva desses conectores pela fauna, incluindo aspectos como a largura, qualidade, configuração na paisagem, entre outros. Essas discussões são cruciais no momento em que temos que lidar com os possíveis efeitos negativos causados pelas alterações do Código Florestal Brasileiro, que afetam a necessidade de recomposição de um enorme passivo ambiental em APPs no país. Nesse contexto, a presente tese avaliou o papel das APPs como componentes espaciais que promovem a conectividade de paisagens fragmentadas do ponto de vista da fauna, especificamente de mamíferos terrestres de médio e grande porte. A tese está dividida em quatro capítulos, sendo o primeiro referente a uma revisão que introduz os conceitos e objetivos da manutenção de corredores ecológicos, tanto de acordo com a literatura ecológica quanto com a legislação brasileira. Os três capítulos seguintes fazem parte do trabalho empírico realizado em uma paisagem fragmentada no sul da Amazônia, e estão apresentados no formato de manuscritos científicos, em inglês. O primeiro capítulo revisa os conceitos sobre corredores ecológicos encontrados na teoria e aplicados na prática no Brasil, tanto em escalas locais quanto regionais. Também discute as vantagens e desvantagens de se investir em corredores como estratégia de manejo, de acordo com o que defensores e críticos apresentam na literatura. Finalmente, é discutido o potencial das APPs como elementos conectores em paisagens fragmentadas no Brasil e como as mudanças recentes (2012) no Código Florestal Brasileiro podem afetar esses elementos. O segundo capítulo apresenta um estudo empírico, em que se avaliou o uso dos corredores ecológicos em uma paisagem fragmentada no sul da Amazônia pela comunidade de mamíferos. Nesse sentido, foi avaliado como varia a riqueza, a composição e a diversidade funcional da comunidade nos fragmentos lineares nas APPs. Foram selecionadas 43 áreas riparias para o estudo, sendo 38 corredores ripários em APPs e cinco áreas pseudo-controles, em áreas de floresta contínua, em uma paisagem que compreendia três municípios no norte do estado do Mato Grosso (Alta Floresta, Carlinda e Paranaíta). Foram instaladas entre quatro e cinco armadilhas fotográficas em cada área selecionada para amostrar a fauna de mamíferos durante as estações secas de 2013 e 2014. A riqueza, composição e diversidade funcional foram comparadas entre as APPs e as áreas ripárias contínuas. Os resultados indicam que todas essas medidas foram maiores nas áreas controle do que em áreas ripárias desmatadas. Os padrões da comunidade nos corredores ripários de acordo com a largura, a qualidade estrutural, a configuração da paisagem também foram avaliados. A degradação da qualidade das florestas esteve associada a uma menor riqueza geral, enquanto a riqueza e diversidade funcional de espécies estritamente florestais foram maiores em corredores mais largos. A composição da comunidade indicou que a perda e degradação dos corredores ripários favorecem espécies tolerantes à matriz antrópica, composta basicamente por pastagens. A conclusão do estudo é que as APPs ripárias têm o potencial de funcionar como conectores na paisagem, mas que largura e degradação florestal são fatores chave na determinação do sucesso desses conectores. O terceiro capítulo consiste também na avaliação do papel das APPs como corredores ecológicos, mas com enfoque nos padrões de ocupação de cada espécie de mamífero. Com os mesmos dados obtidos com a amostragem apresentada no capítulo 2, modelos de ocupação que levam em consideração diferenças na detectabilidade foram feitos para 10 espécies: a capivara (Hydrochaeris hydrochoerus), a paca (Cuniculus paca), a cotia (Dasyprocta leporina), o saruê (Didelphis marsupialis), o tatu-galinha (Dasypus novemcinctus), a anta (Tapirus terrestris), o queixada (Tayassu pecari), o cateto (Pecari tajacu), o quati (Nasua nasua) e a irara (Eira barbara). Esses modelos também foram utilizados para testar o efeito da largura, da qualidade e do contexto dos corredores ripários avaliados como fatores explanatórios das variações 55 encontradas. Finalmente, os padrões obtidos foram extrapolados para as 1.915 demais matas ripárias identificadas nos três municípios e, desta forma, foi possível identificar as APPs com maior e menor potencial de manter as diferentes espécies na região. A ocupação de oito espécies respondeu aos fatores testados, e a degradação florestal foi novamente uma das variáveis mais importantes para explicar a probabilidade de ocupação de seis espécies. Na paisagem como um 60 todo, as matas ripárias que apresentaram um menor potencial de manter as espécies foram aquelas com baixa com qualidade florestal e este aspecto foi mais importante do que a estrutura de paisagem. Tais áreas, ou seja, APPs mais degradadas e com menor potencial de promover conectividade, estão localizadas no norte do município de Alta Floresta e em Carlinda, regiões com ocupação mais antiga. O quarto capítulo apresenta uma avaliação dos determinantes de perda e degradação de APPs ripárias, tanto ao longo de cursos d´água quanto de nascentes. Essa análise foi realizada somente no município de Alta Floresta, para onde havia um mapa disponível da rede hidrográfica completa (rios e nascentes) e de mais de 3.000 propriedades privadas delimitadas. Foi examinado como determinantes espaciais (distância da cidade, distância de estradas e o tamanho da propriedade) influenciam a área mantida e a qualidade da floresta nessas APPs. Ademais, os padrões observados foram relacionados à obediência à legislação, de acordo com o antigo (Lei 4771/65) e o novo Código Florestal (Lei 12.651/12). Os padrões de alteração que ocorrem no interior das matas ripárias em resposta à degradação florestal também foram descritos e explorados em uma escala mais local, com os dados empíricos coletados durante o 75 estudo descrito nos capítulos 2 e 3. A perda de habitat e a degradação florestal estão comumente associadas, mas ambos os aspectos podem responder de modo independente aos mesmos determinantes. Florestas ao redor de nascentes estavam em pior estado do que florestas ao longo de cursos d‘água, e ambos pequenos e grandes proprietários tenderam a remover áreas de nascente mais do que o permitido legalmente. A proximidade de estradas também influenciou negativamente a qualidade e quantidade de floresta remanescente nos dois casos, e a distância de cidades afetou todas as variáveis testadas exceto qualidade de mata de nascente. A degradação foi maior em florestas ripárias mais estreitas, e as mudanças estruturais detectadas no interior das matas inclui a intrusão de gado, que afeta a densidade de sub-bosque, e a diminuição da altura e homogeneidade do perfil da floresta.
Abstract: Landscape connectivity is one of the determinants of animal population viability in the face of habitat loss and fragmentation, and ecological corridors are one of the strategies used to safeguard the connectivity of a fragmented landscape. In Brazil, the maintenance of riparian forest buffers (Permanent Protection Areas, APP) along streams and rivers is prescribed by the environmental legislation with the primary goal of preserving the health of the hydrological systems, but they also have the potential of serving as a landscape connector, functioning as ecological corridors. It is however necessary to understand which factors influence the effective use of these connectors by the local fauna, such as corridor width, quality, configuration of the surrounding landscape, among others. This discussion is far from trivial, since we currently have to deal with the possible deleterious effects of the newly approved changes in the Brazilian Forest Code, which affect the restoration requirements in APPs across the country. In this context, the current work aimed at assessing the role of these APPs in promoting landscape connectivity for the native fauna, specifically the medium- and large-bodied terrestrial mammals. The thesis is divided into four chapters. The first is a review of the theme, which introduces the concepts and general goals of ecological corridors, both according to the scientific literature as well as to the Brazilian legislation. The following three chapters comprise the empirical work conducted in a highly fragmented landscape in the southern Amazon, and are presented in the form of scientific manuscripts, in English. The first chapter revises the concepts of ecological corridors found in the literature and applied in practice in Brazil, both at local and regional scales. It also presents the arguments pro and against corridors as a management strategy, according to proposers and critics of ecological corridors. Finally, we discuss the potential of APPs to act as landscape connectors in Brazil, and how the recent changes (2012) in the Brazilian Forest Code may affect this potential. The second chapter presents an empirical study, in which we assessed the use of ecological corridors by the community of terrestrial mammals in a fragmented landscape in southern Amazonia. We tested how community richness, composition, and functional diversity vary within linear riparian APP patches. We selected 43 riparian areas for the study, 38 of which were riparian remnants, and 5 were pseudo-control riparian areas embedded in continuous forest. The study landscape spanned three municipalities in the North of the state of Mato Grosso (Alta Floresta, Carlinda, and Paranaíta). From four to five camera traps were installed within each area selected to sample the mammal community during the dry seasons of 2013 and 2014. Community richness, composition, and functional diversity were compared between APPs and continuous riparian areas. Results indicated that all these response variables were higher in control areas. Community patterns within riparian remnants were also assessed according to corridor width, structural quality, and landscape configuration. Forest quality erosion was associated to a general lower richness, while the richness and functional diversity of forest specialist species were higher in larger corridors. Community composition shifts indicated that loss and degradation of riparian corridors favour matrix-tolerant species. This study concludes that riparian APPs have the potential of acting as landscape connectors, but that corridor width and degradation are key factors in determining the success of these elements as a management strategy. The third chapter also evaluates the role of the APPs as ecological corridors, but focuses on occupancy patterns of each analysed mammal species. With the same empirical data presented in Chapter 2, occupancy models, which take into consideration differences in detection probability, were built for ten species: the capybara (Hydrochaeris hydrochoerus), the lowland paca (Cuniculus paca), the red-rumped agouti (Dasyprocta leporina), the posssum (Didelphis marsupialis), the nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus), the tapir (Tapirus terrestris), the white-lipped peccary (Tayassu pecari), the collared peccary (Pecari tajacu), the coati (Nasua nasua) and the tayra (Eira barbara). These models were also used to test the effect of width, quality and landscape context of the sampled riparian remnants as explanatory variables. Finally, the observed patterns were extrapolated to 1915 remaining riparian forests, manually identified in the three municipal counties. We were therefore able to identify the APPs with the highest and lowest potential for maintaining the different species in the region. The occupancy probabilities of eight species responded to either one or more of the factors tested, and forest degradation was again the most important variable, explaining occupancy patterns of six species. In the landscape as a whole, the riparian patches that presented a lower potential for harbouring the species were those with low internal quality, and this factor was more important than landscape structure. These more highly degraded areas, with lower potential to promote landscape connectivity, were located in the North of the municipal county of Alta Floresta and in Carlinda, portions of the landscape with an earlier history of human occupation. The fourth and last chapter presents an evaluating of the driver of riparian APP loss and degradation, both along streams and around headwaters. This analysis was conducted for the Alta Floresta municipal county only, for which we had a map of the complete hydrological network and the headwaters sites, as well as a map of over 3000 private landholdings. We examined how spatial drivers (distance to town, distance to roads, and landholding size) affect the amount of forest set-asides and the quality of the forest in these APPs. Moreover, the observed patterns were associated to legislative compliance, according to both the previous (Bill 4771/65) and the new Forest Code (Bill 12.651/12). Environmental changes that occur within riparian forests associated to forest degradation were also explored at a more local scale, using the empirical data we obtained during the field study described in Chapters 2 and 3. Habitat loss and degradation are commonly associated, but they may also respond independently to the same drivers. Forest remnants around headwaters were generally worse off than remnants along streams, and both small and large landholders removed headwater forests more than legally permitted. Proximity to roads also negatively influenced the quality and amount of remnants forest in both cases, while distance to town affected all but one variable – headwater forest quality. Forest degradation was higher in narrower riparian forests, and structural changes detected within the remnants included: cattle intrusion, which affects understory density, and forest profile height and homogeneity.
Unidade Acadêmica: Instituto de Ciências Biológicas (IB)
Informações adicionais: Tese (doutorado) — Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Programa de Pós-Graduação em Zoologia, 2016.
Programa de pós-graduação: Programa de Pós-Graduação em Zoologia
Licença: A concessão da licença deste item refere-se ao termo de autorização impresso assinado pelo autor com as seguintes condições: Na qualidade de titular dos direitos de autor da publicação, autorizo a Universidade de Brasília e o IBICT a disponibilizar por meio dos sites www.bce.unb.br, www.ibict.br, http://hercules.vtls.com/cgi-bin/ndltd/chameleon?lng=pt&skin=ndltd sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o texto integral da obra disponibilizada, conforme permissões assinaladas, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.
DOI: http://dx.doi.org/10.26512/2016.09.T.22233
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