Habitar o centro de Brasília : projeto, construção e vivência do Setor Comercial Sul

Abstract

Esta pesquisa tem por foco o Setor Comercial Sul (SCS), localizado na zona central de Brasília. Assim como diversos centros urbanos de metrópoles, o SCS vem passando por alterações em suas dinâmicas socioeconômicas, sendo reconhecido como um local em decadência. Atualmente, estima-se que cerca de 25% dos imóveis do Setor estejam vagos. Como meio para reverter esse quadro, surgiu a proposta, inicialmente trazida pelo Plano de

Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília (PPCUB), de inserir habitações de inte- resse social (HIS), em complementaridade ao uso comercial. Além de coadunar-se com uma

perspectiva inclusiva de direitos à moradia e à cidade, a nosso ver, essa proposta traz para a frente do debate um questionamento sobre a necessidade de que a setorização funcional, típica do urbanismo modernista, seja mantida de maneira tão rígida. Debruçamo-nos, assim, sobre uma investigação acerca da história do Setor desde sua concepção até 2014. Na análise entre o planejado, o projetado e o construído e suas formas de apropriação e vivência, utilizamos diversas fontes históricas, entre outras: o Relatório do Plano Piloto de Brasília, de autoria de Lucio Costa, o projeto urbanístico do Setor, da década de 1960, a Revista Brasília, fotografias

obtidas no Arquivo Público do DF e o jornal diário Correio Braziliense. Além disso, exami- namos cinco dos projetos de revitalização propostos em âmbito institucional: Revitalização do

Setor Comercial Sul (1997); Programa de Revitalização dos Setores Centrais (2009); Novos Projetos (2017); PPCUB (2018) e o Programa Viva Centro! (2020). Com base nessas análises, observamos que o Setor passou desde sua origem por mudanças; que ele sempre ocupou uma posição de centralidade na cidade; que uma gama diversa de atividades sempre se fizeram presentes ali; que os projetos de revitalização respondem a questões que são históricas no SCS. Por fim, percebemos que a força e a potência do Setor estão, sobretudo, na paisagem urbana, materializada com base no projeto de 1960, no princípio de priorizar o pedestre, na implantação dos edifícios, no gabarito, na configuração dos espaços públicos, nas galerias, nas praças, nas formas de apropriação daquela centralidade, e não na setorização de usos.