Análise das estruturas de governança na produção de orgânicos sob a ótica da economia dos custos de transação e formas plurais : um estudo de caso no Centro-Oeste brasileiro

Abstract

Este trabalho teve como objetivo analisar as estruturas de governança adotadas por uma empresa atuante no segmento de produtos orgânicos. Assumindo que uma mesma organização possa adotar diferentes estruturas ao longo de sua atividade operacional, a análise teve como primeiro tópico o mapeamento das principais etapas do ciclo de produção da empresa e as estruturas de governança adotada em cada uma delas. A partir disso, foram verificados os atributos que determinam a estrutura predominante em cada etapa, tendo como base as dimensões da Economia dos Custos de Transação (ECT) – frequência, incerteza e especificidade dos ativos. Além disso, verificou-se também a presença de formas plurais e, após a confirmação, se sua existência está atrelada aos atributos ambiguidade, complexidade e comportamento estratégico. Posteriormente, verificou-se também se as estruturas plurais identificadas têm caráter provisório ou são estáveis. Para tal análise, foi realizado um estudo de caso em um produtor orgânico da região do Centro Oeste brasileiro, com vasta experiência no setor e destaque nacional na área orgânica. Os dados foram coletados por meio de entrevista e a resposta de um questionário semiestruturado. Para a análise dos dados coletados, utilizou a análise de conteúdo, especificamente a análise por categorias. Identificou-se como etapas principais da cadeia os insumos, cultivo, colheita, preparação para venda e venda. Sobre as estruturas predominantes, a empresa utiliza a integração total na etapa de insumos até a preparação para venda e a estrutura híbrida para a etapa de vendas. Em relação aos fatores determinantes, a frequência foi elevada em todas as etapas, assim como a incerteza e a especificidade de ativo. Todavia, alguns elementos se destacaram na definição da estrutura. Para as etapas de cultivo e colheita, a incerteza comportamental foi um elemento preponderante. Para a etapa de vendas, o ganho de previsibilidade dada as relações bem estabelecidas com grandes varejistas determinam a escolha da estrutura de governança. Além desses aspectos, há outros fatores além dos definidos pela base teórica. No caso dos insumos, o custo financeiro para gerá-los internamente é inferior ao praticado no mercado, enquanto na etapa de preparação para venda, a criticidade desta e a utilização direta da marca faz com que a preparação seja feita apenas pela empresa. As formas plurais, por sua vez, foram identificadas nas etapas de cultivo, colheita e vendas. Nesses três estágios de produção, destacam-se a ambiguidade e o comportamento estratégico. Para o cultivo e a colheita, há desafios em ampliar o mix (em quantidade e variedade) e a aquisição junto a outros fornecedores permite essa ampliação e gera também o aumento do ganho ao permitir a revenda de produtos. Para a etapa de venda a ambiguidade também se apresenta na dualidade de riscos e benefícios entre vender por meio de lojas próprias (maiores lucro, investimento e risco) e por meio de grandes varejistas (menores lucro, investimento e risco). Ainda assim, para todas essas etapas, o atributo que mais se destacou foi o comportamento estratégico. Sobre a estabilidade das formas plurais, embora possam ocorrer mudanças no futuro, a gestora da empresa em estudo entende o benefício da atual forma de organização e indica sua manutenção. Destaca-se por fim, a utilidade da ECT e dos atributos de Ménard (2013) como complemento para definir as estruturas que garantam a estrutura adequada para empresas que atuem no segmento agrícola orgânico.