Presença de partículas de polímeros sintéticos (microplásticos) em amostras de açúcar comercializado em supermercados de Brasília (Distrito Federal)

Abstract

Introdução: Os plásticos são onipresentes na vida moderna. O êxito do plástico como material de uso recorrente em nosso cotidiano tem sido de grande valia, pois sua versatilidade é um dos grandes atrativos para o uso indiscriminado. A contaminação de produtos alimentícios, que passam por um certo grau de processamento, é uma questão que requer atenção. Objetivo: Determinar a possível presença de micropláticos em diferentes marcas de açúcares utilizados no Distrito Federal, e comparar o grau de contaminação dos diferentes açucares produzidos por diferentes produtores e originários do mesmo ou de diferentes estados do pais. Métodos: Foram utilizadas 10 marcas de açúcar, os quais foram comprados em março de 2020 em 6 supermercados em Brasília (Distrito Federal, Brasil). As amostras foram selecionadas com base na região de sua origem, detalhada no rótulo de cada produto, sendo analisados os dois tipos de açúcares mais consumidos pela população: cristal e refinado. As amostras de açúcar foram processadas individualmente da seguinte forma: a totalidade de cada amostra (1 kg) foi dissolvida em 2 litros de agua milliQ, com o auxílio de agitador magnético e a seguir filtrada, por gravidade, utilizando um filtro de tela metálica com malhas de diâmetro equivalente a 25 μm. A malha do filtro foi a seguir cuidadosamente lavada com água milliQ e 800 µL do líquido residual foram coletados na lateral do filtro e adicionados a 200 µL de uma solução de corante Vermelho Nilo (9-dietilamino-5H-benzo [a] fenoxazina-5-ona - N3013, Sigma Aldrich) diluída em metanol, na concentração de 10 µg/mL-1, em eppendorf de 1 ml, em seguida a solução foi transferida para a câmara de sedgewick rafter e analisada usando o microscópio de fluorescência Nikon Eclipse Ni-U usando o filtro FITC (comprimento de onda: 475-625 nm). Resultados: Foram encontrados microplásticos em todas as amostras investigadas, independentemente do tipo de açúcar. O número médio de MPs encontrados em cada amostra de 1 kg de açúcar foi de 649 ± 736 com máximo e mínimo respectivamente de 2084 e 28, um dado impressionante e além do esperado. É difícil supor se as partículas micro e nanoplásticas já estavam nos alimentos antes do processamento ou se sua presença é condicionada ao próprio processamento. Um único estudo analisou a possível contaminação do açúcar por MPs com resultados não confiáveis por não ter utilizado técnica de espectroscopia e nem cor apropriada. Esses autores encontraram fragmentos e fibras, mas os níveis encontrados provavelmente não ultrapassaram os padrões limite da União Européia. Conclusão: Mediante análise do estudo, foi possível levantar o tópico de uma possível contaminação ambiental por MPs, reforçando a visão da existência de grave e progressivo problema de comprometimento ambiental por crescente volume de resíduos plásticos.