Patrimônio-territorial indígena na urbanização de Brasília e no Santuário Sagrado dos Pajés : contexto latino-americano

Abstract

O processo de colonização que pairou sobre o continente latino-americano, a partir de meados do século 16, representou aos povos originários a inserção em sistemas coercitivos, bélicos, econômicos e religiosos. Essa ação se concretizou através de diversos instrumentos políticos, como no município de Águas Belas, em Pernambuco, que inseriu os indígenas Fulni-ô em aproximadamente quatro séculos de intervenções religiosas e estatais marcadas, entre outras, por realocações e supressões territoriais, o que se manifestou na duração do drama colonial/moderno e suas mazelas, sujeitando os Fulni-ô ao fenômeno migrante em direção a Brasília, em finais dos anos 1950. Na futura capital da República, os indígenas buscaram manter seus aspectos culturais e sagrados originários de Águas Belas; e assim o fizeram, através da ocupação e produção de um território identificado como ancestral. A

relevância do que viria a se tornar o território indígena Santuário Sagrado dos Pajés, torno- o lugar de referência para outros povos indígenas do país, que trouxeram e mantiveram

latentes suas singularidades. Portanto, o objetivo do estudo envolveu a identificação e análise do patrimônio-territorial indígena, de forma a apreender elementos de resistência e/ou duração imanentes ao fenômeno urbano-metropolitano da capital federal. Os procedimentos metodológicos, por sua vez, envolveram a prática de pesquisas de campo associadas a realização de entrevistas e compilação de diário de campo dos últimos três anos (2019 - 2021), juntamente com materiais iconográficos. Os resultados apontam para a materialidade-imaterialidade que permeiam as expressões do patrimônio-territorial local, sintetizados e espacializados em material cartográfico, intrínsecas a ações e estratégias delineadas comunitariamente em favor de sua resistência e duração. A investigação confirma a hipótese de que, a despeito dos deslocamentos, o patrimônio-territorial indígena mantém-se latente no lugar da vida desse povo, partindo do entendimento de que sua concretude emerge em indissociabilidade aos corpos e territórios originários. O estudo, então, contribui empiricamente a proposta do patrimônio-territorial, possibilitando concluir que autonomia comunitária e a relevância do sujeito-patrimônio são protagonistas em favor da ativação, duração e difusão de seus elementos e referências culturais.