Duas escolas durante a pandemia da Covid-19 : um diálogo entre a etnografia e o behaviorismo radical

Abstract

O presente trabalho versa sobre a pandemia da Covid-19 como um desnudar de contingências atuantes em duas escolas: uma privada, considerada oferecedora de uma educação inovadora e, como contraponto, uma escola pública. Construiu-se uma escrita etnográfica com inspirações em uma postura contextualista e funcional embasada no behaviorismo radical em que a educação virou foco devido ao contexto de pandemia e, consequentemente, o distanciamento físico imposto, pois foi preciso implementar o ensino remoto. A construção dos dados ocorreu a partir de contatos diversificados com as duas escolas, entre eles: entrevistas, observação de aulas virtuais e participação em reuniões pedagógicas. A partir das adaptações e desafios enfrentados por cada uma das escolas, foi possível observar o descortinar de contingências que denunciam as estruturas de poder atuantes para a manutenção do controle social – controle em seu sentido ordinário do conceito. Além disso, a construção de uma perspectiva sobre a educação enquanto um instrumento potente que pode estar à serviço tanto da manutenção como da transformação do status quo. Os resultados mostraram que, dentre as contingências que se desnudaram, está a dissolução de pré concepções acerca das relações complexas entre o status de práticas inovadoras e convencionais ao observar as estratégias de enfrentamento adotas por cada escola. Ficou evidenciado que, em um contexto regido pela lógica neoliberal, na escola particular, por um lado, desnudaram-se as contingências mercadológicas que regiam seu funcionamento, mas agora ainda mais dominantes. Enquanto que, na escola pública, desnudouse como o neoliberalismo se infiltrou na esfera pública. Então, essa complexidade e também as discrepâncias entre o que as escolas queriam ser e o que elas conseguiam ser sob o domínio das contingências que a regeram se tornaram mais evidente. Ao mesmo tempo, o contexto da Covid-19 revelou o poder de resistência e de criatividade perante as dificuldades vividas nas duas escolas. Ocorreram movimentos de contracontrole, buscando manter a autonomia das docentes e das estudantes e fortalecer uma pedagogia emancipadora. Ademais, observa-se também que o reconhecimento enquanto uma educação inovadora não é uma questão de decisão meramente pedagógica, mas, sobretudo, política. Neste sentido, para se construir uma educação emancipatória necessariamente esta deve estar ao alcance dos grupos marginalizados.