Funcionamento de rios intermitentes sob influência da transposição do Rio São Francisco

Abstract

O objetivo da tese foi investigar a variabilidade natural do funcionamento de rios intermitentes, bem como analisar sua resposta a uma obra de transposição hídrica entre bacias hidrográficas. Além disso, buscou-se analisar parâmetros sensíveis aos impactos ambientais gerados pela transposição. No capítulo 1 nós analisamos a estrutura e funcionamento de poças remanescentes sob a perspectiva da sua secagem. Os resultados indicaram que a secagem das poças reduziu a qualidade da água e levou à modificação na composição taxonômica, reduzindo a riqueza de invertebrados do sedimento e promovendo o domínio de raspadores. A decomposição de detritos foliares mostrou-se rápida em relação a outros sistemas aquáticos tropicais, embora não tenhamos verificado influência direta dos invertebrados associados. Nesse contexto, a perda da fase de poças em rios intermitentes (p. ex. com a perenização dos canais) pode resultar em mudanças diretas no funcionamento de rios intermitentes. No capítulo 2 nós estudamos a mudança de fase aquática (poça para fluxo) em rios intermitentes e a influência da transposição do rio São Francisco na dominância de atributos funcionais e na redundância funcional de invertebrados como proxy para mudanças nos processos ecossistêmicos. Os dados evidenciaram a importância da alternância das fases aquáticas no domínio de atributos de resistência e resiliência à seca. Além disso, a fase de fluxo apresentou maior redundância funcional. A transposição não reduziu a qualidade da água em nenhuma das fases, mas promoveu alterações significativas na dominância de atributos funcionais durante a fase de fluxo com invertebrados mais dependentes do ambiente aquático para dispersão. Além disso, os resultados indicam que a perenização de canais intermitentes por transposições pode ser uma importante via de entrada de espécies exóticas e de mudança do perfil funcional da biota, com potenciais reflexos sobre a ciclagem de nutrientes. No capítulo 3 foi estudado o funcionamento da fase de fluxo de rios intermitentes. Aqui a influência da transposição foi refletida em maiores valores de turbidez e na maior presença de cascalho no sedimento. A composição e a diversidade rarefeita de invertebrados associados aos detritos foliares foram sensíveis às alterações da transposição. Além disso, a decomposição de detritos foliares foi sensível às variações entre os rios, mas a transposição não alterou significativamente as taxas. Nossos resultados indicaram que a manutenção da mudança de fase (fluxo para poça) do rio com transposição amenizou os efeitos da transposição sobre a qualidade da água e sobre a biota. Em geral, a presente tese evidenciou aspectos importantes do funcionamento de rios intermitentes e também apontou parâmetros promissores para a avaliação ambiental de rios receptores de transposição. Por fim, sugerimos a necessidade de um monitoramento ambiental contínuo da bacia receptora de transposição.