Esgotamento profissional, significado do trabalho e intenção de rotatividade : estudo de caso dos Policiais Penais Federais

Abstract

O Esgotamento Profissional ou Síndrome de Burnout acomete inúmeros trabalhadores mediante diferentes sinais e sintomas, como cansaço físico e mental, indisposição para a realização das suas funções no trabalho, sensação de insuficiência e reduzida autoestima. Outra questão que igualmente merece ser destacada é o Significado do Trabalho pelos profissionais de uma organização, a fim de compreender as razões pela qual realizam o seu trabalho, podendo-se apontar, de forma exemplificativa, o recebimento de uma renda, status social e relacionamentos interpessoais. Tais questões também podem ser analisadas no serviço público, inclusive em nível federal, no que compreende os servidores vinculados ao DEPEN e que exercem funções junto ao Sistema Penitenciário Federal, conhecidos como policiais penais federais. Referidos servidores enfrentam inúmeros situações capazes de provocar Esgotamento Profissional e determinar as suas percepções a respeito do significado do trabalho em sua vida. Entre as características específicas de seu cargo, mencionam-se o convívio com presos de alta periculosidade, estar a mercê de inúmeras ameaças a sua vida ou de sua família, e a inexistência de um plano de cargos e salários que permita a evolução na carreira. Tais situações podem ocasionar vários prejuízos a sua saúde, de modo que façam com que se sintam desmotivados, cansados e exaustos para a realização das atividades que lhe competem, assim como façam com que sintam vontade de sair de seu emprego junto ao DEPEN. Assim, o objetivo deste trabalho é testar empriricamente, se o significado atribuído ao trabalho e o esgotamento profissional predirão a intenção de rotatividade junto a policiais penais federais. Como objetivos específicos do trabalho, apresentam-se: descrever o esgotamento profissional percebido por policiais penais federais no exercício das suas atribuições; descrever o significado atribuído ao trabalho por policiais penais federais; descrever a intenção de rotatividade (de sair do DEPEN) junto a policiais penais federais; descrever a quantidade de policiais penais federais afastados, por motivo de saúde, nos últimos 15 anos; correlacionar os afastamento dos policiais penais federais com implicações financeiras para o DEPEN; e descrever evidências preditivas obtidas entre o esgotamento profissional, o significado atribuído ao trabalho e a intenção de rotatividade junto a policiais policiais penais federais. Para tanto, foi realizada uma pesquisa multimétodo, de natureza descritiva (na etapa qualitativa) e inferencial (na etapa quantitativa). Dessa forma, na primeira etapa qualitativa, foram levantados documentos do DEPEN, acerca de frequência/motivos para afastamento, dos últimos 15 anos, bem como foram entrevistados 10 servidores/profissionais da área de recursos humanos do DEPEN, visando identificar práticas organizacionais relacionadas à promoção da saúde mental entre os policiais penais federais. Estas entrevistas foram analisadas por meio de análise de conteúdo categorial, e todos os procedimentos éticos foram seguidos. Na etapa quantitativa, foi realizado um survey, por acessibilidade, junto a 402 policiais penais federais. Esta amostra foi predominantemente masculina, com idade entre 18 e 53 anos e tempo médio de serviço no DEPEN de 8 anos. A maioria dos respondentes não exercia atividade de gestão quando da realização desta pesquisa. Para a etapa quantitativa, foram adotados procedimentos de análise estatística descritiva e inferencial, para a testagem do modelo teórico hipotetizado de pesquisa. Utilizaram-se os escores fatoriais das dimensões teórico/empíricas das escalas. Para a segunda etapa qualitativa, realizada após a análise dos dados quantitativos, foram entrevistados 10 servidores/profissionais da área de recursos humanos (alguns deles já haviam sido entrevistados na etapa qualitativa anterior), visando-se compreender possíveis razões que explicassem os resultados estatísticos obtidos e possíveis práticas organizacionais que poderiam ser planejadas à luz destes resultados. Esta segunda etapa qualitativa foi adotada visando-se o entendimento do comportamento dos dados quantitativos culminando com a proposição de ideias e reflexões acerca de políticas organizacionais que poderiam melhorar as condições de trabalho e de saúde mental entre os policiais penais federais. Os resultados, de maneira geral, indicaram que os resultados percebidos mediante o trabalho realizado (dimensão de significado do trabalho) e a exaustão emocional (dimensão de esgotamento profissional) predisseram a intenção de rotatividade junto à amostra pesquisada. Razões referentes à pressão do ambiente de trabalho, especialmente quando se consideram as ameaças de presos de alta periculosidade à segurança dos familiares, foram as principais apontadas como fonte originadora de exaustão. Conclui-se que é preciso uma atenção ao policial penal federal quando da proposição de ações de recursos humanos, entendendo todas as especificidades decorrentes de sua atuação profissional e inserção social. Sugere-se, para estudos futuros, que se investiguem fatores de apoio e suporte organizacional ao trabalho do policial penal federal, e que se busque a promoção de práticas de compliance no seu desenvolvimento profissional, especialmente no que tange à promoção de sua qualidade de vida no trabalho e saúde mental.