Experiência estética nas escolas com adolescentes meninas : narrativas e constituição de sentidos

Abstract

A presente pesquisa se aproxima mais de uma obra literária/narrativa e da verdade/legitimidade da arte, do que de uma tese ou da verdade científica moderna. Nesse ato narrativo, busco compreender os sentidos constituídos na/pela experiência estética com adolescentes meninas, no contexto escolar. Para tanto, relaciono algumas experiências de vida/profissionais com saberes filosóficos, psicológicos, artísticos e educacionais, constituindo uma pesquisa de caráter interdisciplinar. Ao estabelecer pontes entre diversas áreas do conhecimento humano, evidencio as contribuições de autores como Gadamer, Benjamin, Vigotski, Bakhtin, Freire e Bachelard, além do poeta Manoel de Barros, da contadora de história e psicóloga Estés, e das feministas Diniz, Adichie e Ribeiro. Portanto, os temas principais desta pesquisa – a experiência estética, a narrativa, o sentido e a adolescência – são desenvolvidos à luz desse arsenal de referências, no qual destaco a hermenêutica gadameriana e a psicologia histórico-cultural, considerando que ambas as perspectivas teóricas são relevantes para pensar o conceito de experiência estética, aqui proposto. Em Gadamer, desenvolvo a ideia de experiência, a partir das noções de verdade e de legitimidade do conhecimento. Já em Vigotski, problematizo o termo estética, considerando a relação dialética entre ética e de estética – ato moral/político e ato cultural/histórico. Ademais, proponho um desdobramento da psicologia da arte vigotskiana, sugerindo o conceito de encatarse. Tal conceito, por sua vez, fundamenta as experiências estéticas desenvolvidas em campos. A pesquisa de campos, por conseguinte, foi realizada em uma escola pública com estudantes matriculadas no nono ano do Ensino Fundamental. A metodologia – ou o farol que norteou este trabalho – foi desenvolvida a partir de aproximações teóricas entre: as perspectivas narrativistas, a psicologia da arte vigotskiana, a hermenêutica gadameriana e a pesquisa-ação existencial. De modo geral, as experiências estéticas, com as adolescentes, se desenvolveram por meio da leitura de contos e de imagens, dentro de uma tenda magenta. Essas experiências constituíram narrativas e sentidos sobre temas como: assédio/violência, solidão/indiferença social, amizade/família, dentre outros. Compreendo que as experiências suscitadas pelos contos e pelas imagens contribuíram para: o estabelecimento de uma linguagem (simbólica) própria ao grupo, a criação de laços de amizade e o conhecimento da história de vida das estudantes por uma via poética – que se difere de questionários, por exemplo. Já a tenda viabilizou um lugar “bonito” e intimista, um “lugar de fora”, dentro do ambiente escolar. Penso que essas experiências – formativas e intimistas –, caminham na contramão de grande parte das experiências estéticas educacionais vigentes – com salas de aula superlotadas e depredadas, alta poluição sonora, câmeras de vigilância e constante exposição (necessidade de extroversão), por exemplo. Nesse sentido, esta pesquisa pode servir para encorajar a criação de lugares e de experiências formativas mais intimistas, introspectivas, sensíveis e humanizadoras/emancipadoras. Lugares, estes, onde o tempo ganhe permissão para desacelerar, onde os corpos possam adquirir outras formas/posturas estéticas, onde os olhares tenham inspiração para se reinventar e reinventar o próprio mundo; de dentro e de fora das escolas. Onde, afinal, as artes e as ciências se entrelacem e o aprender seja mais espiral do que linha reta.