Responder relacional derivado : efeito de estímulos com significados conflitantes em universitários com e sem depressão

Abstract

Estímulos com significados emocionais, que apresentam valências conflitantes, podem afetar a emergência de novas relações ou o responder relacional derivado, principalmente em populações consideradas clínicas. Entretanto, verifica-se em tal literatura pouca participação de indivíduos com Transtorno Depressivo Maior (TDM). Estudos epidemiológicos sobre depressão mostram taxas elevadas de prevalência em universitários em relação a população geral. Este estudo teve como objetivo geral avaliar o efeito de estímulos com significados conflitantes no responder relacional derivado de universitários com e sem depressão. Foram realizados três experimentos, nos quais os participantes foram distribuídos em grupos, de acordo com o escore obtido no BDI-II (0- 13 - Grupo Sem Depressão; escores igual ou superior a 14 pontos - Grupo Com Depressão). O Experimento 1 avaliou o efeito de estímulos com valência positiva e negativa, em conjunto com sílabas sem significado, na formação de classes de equivalência. Assim, 10 participantes foram expostos a tarefa de pareamento ao modelo nas fases de treino (AB: palavras com valência negativa - sílabas sem significado, e BC: sílabas sem significado - palavras com valência positiva) e de teste de equivalência (CA: palavras com valência positiva - palavras com valência negativa). Três dos cinco participantes do Grupo Com Depressão não atingiram o critério para a formação de classes, em contraste com todos os participantes do Grupo Sem Depressão, que atingiram esse critério. O Experimento 2 avaliou o efeito de estímulos com e sem significado emocional na formação de relações emergentes. Para isso, 20 participantes foram expostos a duas condições: Sem Significado (treinos AB e BC e testes AB, BC, AC e CA, com sílabas sem significado na língua portuguesa) e Com Significado (treinos DE e EF e testes ED, FE, DF e FD, com palavras com valência positiva e negativa, idêntica a condição experimental do Experimento 1). Quatro participantes do Grupo Com Depressão não formaram classes de equivalência na primeira condição a qual foram expostos e todos os participantes do Grupo Sem Depressão formaram classes de equivalência nas duas condições. O Experimento 3, avaliou o responder relacional derivado em duas tarefas do IRAP, com palavras com valência positiva e negativa em comparação com palavras que se referem a sentimentos derivados do BDI-II. Dos 30 participantes de cada Grupo (Com e Sem Depressão), metade foi exposta ao IRAPValência e a outra metade ao IRAP-Sentimentos. O desempenho dos grupos foi ligeiramente diferente apenas no IRAP-Sentimentos, embora não tenha sido estatisticamente significante. Adicionalmente, para os participantes de ambos os grupos não foi verificada correlação entre o desempenho nas tentativas dos IRAPs e os escores no BDI-II. Conclui-se que estímulos com valências diferentes (i.e., positivas e negativas) tendem a dificultar a formação de novas relações verbais em indivíduos com depressão, mas não apresentam o mesmo efeito em indivíduos sem depressão. Esses resultados contribuem para descrições mais funcionais sobre o desenvolvimento e tratamento de comportamentos depressivos.