Estresse parental em cuidadores primários de crianças com evidência de infecção congênita pelo vírus Zika em municípios do Nordeste brasileiro, 2017

Abstract

Esta dissertação descreve a relação entre o estresse parental, de cuidadores primários de crianças entre 15 e 26 meses de idade com evidências de infecção congênita pelo vírus Zika, e o estado de saúde e desenvolvimento da criança, auxílio governamental e dados sociodemográficos. Desde a confirmação da relação entre o aumento de microcefalias no Brasil e a infecção pelo vírus Zika durante a gestação, diversos estudos demonstraram uma série de manifestações clínicas associadas à infecção congênita pelo vírus, mas apenas duas publicações demonstraram desfechos relacionados à saúde mental dos cuidadores no contexto da epidemia recente do vírus Zika. Foi realizado um estudo transversal com 146 cuidadores primários de crianças de 15 a 26 meses de idade, com evidências laboratoriais ou clínicas de infecção congênita pelo vírus Zika, entre agosto e outubro de 2017, em três municípios brasileiros: João Pessoa e Campina Grande no estado da Paraíba e Fortaleza no estado do Ceará. Os cuidadores informaram sobre a vida e a saúde de seus filhos, as circunstâncias familiares e foram submetidos a triagem para estresse usando o instrumento “Índice de Estresse Parental” (PSISF). As crianças foram avaliadas quanto a atrasos no desenvolvimento e desfechos clínicos. Diferenças na prevalência de fatores de risco entre cuidadores com estresse alto ou clinicamente relevante e aqueles com estresse normal foram avaliadas. Dos 146 participantes, 13% (n = 19) foram classificados com estresse elevado ou clinicamente relevante, todos mães. Os dois fatores de risco associados de forma significativa e independente com altos níveis de estresse, em comparação com indivíduos com níveis normais de estresse, foram " dificuldade em cobrir despesas básicas" (OR ajustado = 3,6 (95% CI: 1,1-11,8; p = 0,034)) e “ter um filho com problemas de sono” (OR ajustado = 10,4 (IC 95% 1,3-81,7; p = 0,026)). Alguns fatores parecem contribuir significativamente mais do que outros para o nível de estresse experimentado por cuidadores de crianças com evidência de infecção congênita pelo vírus Zika. As intervenções e as estratégias preventivas devem visar também os cuidadores, que por sua vez serão capazes de responder às características únicas do seu filho.