Variações morfológicas em populações de mosca-branca mediadas pela interação inseto-planta-paisagem : implicações para o uso de habitat e exploração de hospedeiro

Abstract

Variações morfológicas intraespecíficas na capacidade de voo em insetos polífagos podem ser uma otimização para o forrageamento, colonização do habitat e seleção do hospedeiro. Em insetos polífagos e dispersores, como Bemisia tabaci (Hemiptera: Aleyrodidae), já foi proposto a existência de morfotipos de voos de dispersão (longa distância) e voos triviais (curta distância) como adaptações aos hospedeiros e habitats. O objetivo desta dissertação foi testar como variações morfológicas intraespecíficas de B. tabaci são mediadas pela qualidade do recurso local e o papel da paisagem como filtro ambiental dessas variações. Para isso, foi avaliado o formato das asas e do tórax das populações do inseto com análises de morfometria geométrica. Os insetos foram coletados em 15 fazendas inseridas em diferentes matrizes para verificar o papel da composição da paisagem na ocorrência dos morfotipos na população. Testamos a qualidade do recurso como preditor das variações intraespecíficas de dispersão com coletas de insetos em diferentes estádios fenológicos do recurso em um experimento em casa de vegetação. Foi verificado um dimorfismo sexual na forma das asas, com machos de asas mais curvilíneas enquanto as fêmeas possuem asas mais alongadas. Os morfotipos de dispersão e possivelmente colonizadores aparecem em um gradiente de formas, com asas mais curvilíneas no início (vegetativo) e no final (senescência) do ciclo da planta. Próximo a senescência do recurso, possivelmente há um gatilho para dispersão relacionado a percepção da qualidade alimentar. Quando o recurso é previsível e de qualidade, morfotipos de asas retilíneas ocorrem mais frequentemente na população. Nesta fase, a população possui mais estímulos para voos apenas entre os microhabitats. A paisagem atuou como um filtro ambiental na seleção de morfotipos, dependendo da composição das áreas de vegetação nativa próximas aos cultivos. Aparentemente, apenas indivíduos com asas adaptadas a transpor obstáculos são capazes de driblar barreiras impostas pela vegetação nativa. Desse modo, foi observado que há variações morfológicas intraespecíficas de dispersão em moscas-brancas a fim de otimizar a exploração do recurso. Além disso, estas variações são mediadas por interações insetoplanta de forma escala dependente a depender da composição da paisagem. Também foi demonstrado explicitamente a existência de morfotipos de dispersão em B. tabaci.