Pessoas em situação de rua : resistência e invenção do cotidiano no contexto do Distrito Federal

Abstract

A presente pesquisa tem como foco os processos de resistência e invenção do cotidiano, produzidos por pessoas em situação de rua, tendo como manancial de informações as narrativas construídas a partir das vivências e experiências de vida de um homem, ex-morador de rua, que ainda tem neste espaço palco para suas ações cotidianas de enfrentamento às desigualdades e a luta pela garantia de direitos de pessoas em situação de extrema vulnerabilidade social. A tese tem por objetivo geral compreender processos de resistência e invenção do cotidiano de pessoas em situação de rua, e objetivos específicos (a) investigar estratégias político afetivas utilizadas por pessoas em situação de rua para enfrentamento de problemas cotidianos; (b) investigar os modos de apropriação da cidade por pessoas em situação de rua; (c) compreender os significados de estar na rua para pessoas em situação de rua. A tese defendida é de que a vida na rua pode ser uma vida criativa, potente e legítima. O aporte teórico apresenta uma caracterização macro e micropolítica sobre as pessoas em situação de rua no contexto brasileiro, reflexões sobre modos de subjetivação e a cidade como território existencial, além de dialogar com conceitos ferramentas do campo institucionalista francês. Metodologicamente, foi realizado um estudo de caso, em que, por meio da Cartografia (Deleuze & Guattari, 1995) foram construídas narrativas sobre alguns momentos e eventos importantes da vida de nosso sujeito de pesquisa, registrados em diário de campo. O corpus de pesquisa foi constituído a partir de duas seções, que dialogam entre si: “Cartografia – notas dos percursos/caminhos”, que narra passagens, cenários e vivências junto ao sujeito de pesquisa; e “Narrativas de resistência e invenção”, seção construída para analisar, a partir da noção de analisadores, da socioanálise francesa, três eixos de análise que permitiram a enunciação da tese central defendida. Os analisadores/eixos de análise são: “Amizades e cotidiano”, que evidencia a amizade como instituição central nos processos de resistência e invenção do cotidiano nos percursos da pesquisa; “O caminhar como prática de resistência”, que discute, a partir dos percursos cartográficos, como o caminhar é um dispositivo político construtor de resistência; e “As instituições e os processos de construção de si”, analisador que permitiu compreender os processos de transformação e construção de autonomia na vivência do sujeito de pesquisa. A pesquisa conclui que os dispositivos da amizade, o caminhar pela cidade e instituições que ela dispõe são pontos centrais para a construção de modos de vida mais autônomos para aqueles que têm as ruas como contexto central de suas vidas, num sentido de construir, cotidianamente, formas de resistir e inventar uma vida cheia de vida.