Democracia : noção e prática nos movimentos sociais populares - uma comparação entre Brasil e México

Abstract

A tese objetiva contribuir para a formulação de uma concepção moderna de democracia latino-americana, por meio da identificação/reconstituição/sistematização e análise de representações sociais de distintos sujeitos sobre a questão: dirigentes de organizações sociais brasileiras e mexicanas e de intelectuais que as assessoram e que atuam em organizações rurais e urbanas integrantes de movimentos sociais populares, os quais foram também parceiros do processo investigativo, configurando uma dinâmica peculiar à construção do objeto em análise, cuja identificação teve por foco as suas interações conflitivas (antagônicas ou não) com os Governos, Partidos, Empresas e Igrejas. A singularidade do fenômeno requereu o uso de uma abordagem interdisciplinar, além de um enfoque comparativo entre as realidades do Brasil e do México durante todo o processo da pesquisa. Resultados obtidos com a realização de entrevistas, observação participante e análise de documentos produzidos por aquelas organizações permitiram apreender e sistematizar o significado que a democracia assume entre os sujeitos/parceiros alvo da investigação. Suas representações revelaram a existência de uma utopia sobre a possibilidade e necessidade de construir uma modernidade democrática na América Latina, mas num processo que não pode prescindir da participação das diferentes classes sociais, pois entendem que só com o envolvimento da maioria da sociedade se pode sonhar com a efetivação de outras formas de fazer, de saber, de poder, de sonhar e amar. Observou-se, portanto, a incorporação no imaginário das pessoas de temas antes não considerados, e que dizem respeito ao privilegiamento de dimensões da sua subjetividade e da consideração do respeito às suas raízes culturais. Nesta direção, o sentido da ação social proposta incorpora a configuração de outra recognição e uma (re)invenção da sociedade latino-americana, em que se respeitem e se promovam suas especificidades étnico-culturais e históricas, implicando novas relações de gênero, de poder, de gerações e com o meio ambiente. Enfim, a proposta identificada nas representações sociais indica que a construção da democracia requer uma nova cultura cívico-política que possibilite a realização, mesmo que sempre inconclusa, do ser humano em sua integralidade, como pessoa que se afirma através de sua palavra