Re-conhecimento da realidade na prática psicanalítica

Abstract

O presente trabalho parte da hipótese de que a análise possibilita modificações na realidade do analisando e tem como objetivo discutir tanto a realidade sobre a qual essas modificações incidem como o processo pelo qual mudanças são provocadas por meio da análise e em análise. A argumentação é desenvolvida com base na análise de textos tomados como referência. A partir da discussão das noções de realidade material e realidade psíquica em Freud, chega-se a uma delimitação da realidade "ao analisando, que passa a ser concebida como uma realidade do tipo “ora realidade psíquica-ora realidade material”. O processo pelo qual uma análise possibilita mudanças é abordado tanto por meio da noção freudiana de pós-educação (Nacherziehung) como pela idéia de re-conhecimento, que é introduzida e desenvolvida neste trabalho. O re-conhecimento diz respeito a um processo que se dá em análise - e que produz determinados efeitos no trabalho associativo - e é desenvolvido a partir da noção de reconhecimento trágico (anagnorisis), tal qual esta é apresentada por Aristóteles na Poética. Três tipos de re-conhecimento são apresentados e caracterizados: re-conhecimento da realidade psíquica, re-conhecimento do infantil e re-conhecer-se em sua realidade. Os três são concebidos como aspectos de um re-conhecimento mais geral, o re-conhecimento de uma realidade própria a cada analisando. Como efeito do trabalho associativo provocado pelo re-conhecimento de determinados aspectos de sua realidade, poderá ocorrer uma mudança pós-educativa na maneira de o analisando perceber essa realidade. E é na articulação desses dois processos (re-conhecimento e pós-educação) que uma mudança na realidade do analisando se torna possível a partir da análise, deixando ver aspectos dessa realidade antes ocultos ou desconhecidos. A conclusão sugere que tal mudança pode ter um efeito terapêutico.